20121031

Des-existir

Dia desses pensei seriamente em desistir e me matar de vez. Mas não como se mata uma casca, golpeando-a contra a quina da pia. Cederia, em vez disso, meu corpo à máquina, em morte súbita. Num abandono voluntário de ser flutuada, seria suspendida ao alcance do mundo. Mas antes certamente precisaria conversar em meia-voz com um amigo que não conversasse comigo, só que me abraçasse ao respirar os meus murmúrios. Depois disso, cabisbaixa, engoliria a mim mesma. Num exercício de digestão da máquina, então, expeliria eu de mim. Me vomitaria enquanto fosse devidamente maquinada. Maquiada ao olhar do metal. Seria finalmente uma dessas pessoas importantes que todos bocejam e celebram de vez em quando. Essas pessoas confinadas a serem aquilo que é ilhado de si mesmo, onde a água que as cerca é pelante e mete medo em quem não flutua nem poucas medidas.

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