20121219

corpo seco
espírito molhado

20121212

achei que ia morrer, então acordei. morri pro sonho.

20121205

Entrar naquele tedioso equilíbrio onde não és mais como uma chaleira que transborda a água sobre o fogo, num risco duplo de se queimar/de apagar o fogo, que faz gerar essa energia que te faz sobrevivente em plenos dias suados, secos por aqueles que formam tua vida, que te montam, que te contam de outras formas, que te vivem como se não houvesse água na chaleira, mas apenas a chaleira, vazia e posta no fogo. Assim te fazem os dias, assim que te encontram em meio ao vapor quase todos os dias, quase todo o vapor que já não sabes mais, que já não há mais equilíbrio com o qual consigas conviver nesses entediantes medos, nessa cautela excessiva, sem passo à frente nem passo atrás, sem nunca arriscar à beira, sem nunca riscar a nuca no que chamam de chama, que nunca alcançamos nem tentamos, que não nos faz a cabeça nem nos toca no pescoço, no que continuamos ausentes e tranquilos um no outro, onde a chaleira parece mais leve se contada assim, em plena e morna paz.

20121202

(quase que nem quasefala)

saudade numa mão e uma pedra na outra-pra alguém que nunca se sabe, (na nuca se cabe)

20121128

tratak

pra dias noturnos, tardes ventosas, manhãs sonolentas, noites orgânicas, deitas no sofá, sonhas, pegas as coisas sensíveis no ar, envolves na fronha, esmigalhas, danças farfalhas, entregas às vistas, às pistas, alpistes, alpinistas, equilibristas de memórias tecidas, vividas, desmedidas, vorazes, incapazes de poucos rios.

20121126

p/ tokyo:

gulodice de poliglotisse missen

20121119

sobre estar mais ou menos,

se perceber minguando, dormindo sem espírito, ausente de charme, carente de abraço, corrente de braços, partida de bruços, debruçada na rouquidão da noite, embaraçada aos delírios, emitindo miados, falhando de segundo em segundo, vivendo errado, talhada nos dias, junto a bezerra, coitada, fazida, punida, torta, ondulada até na alma, sobretudo inclinada ao desaforo, espatifada, parada, cocada, covarde.

entre a dúvida presente e o desastre por vir:

20121113

114. sem mais.

subir numa árvore e ficar arrancando lasquinhas do tronco. por alguns dias. sem menos.

20121111

queria ser idosa, mas hoje pensei: puxa, até que tá bom ser jovem ultimamente.

é, acho que sobrevivo jovem e feliz por mais um tempo, mesmo que não tenha muito dinheiro pra aproveitar a vida e que a sociedade crie mil expectativas em cima de mim. pensando bem, em looping, acho que deve muito melhor ser idosa, mesmo que a energia diminua e os medicamentos aumentem. numa dessas, posso continuar sendo jovem por mais um tempo e guardar o que é bom pra lembrar quando for idosa, esquecendo assim dos medicamentos a mais. e, esquecendo dos medicamentos, as dores voltarão e me lembrarei de novo que sou idosa e como eu queria ser idosa quando era jovem. pois bem, lembrando disso, estaria eu sonhando acordada?

20121107

clareza, nunca consigo te capturar

(um piscar em falso)

falar de amor não faz sentido

amar de amor faz?

entre a dúvida presente e o desastre por vir

pulsar naquela frequência que só os dias muito quentes conseguem envolver: afagar o desastre latente, o olhar desmaiante da cidade iluminada em excesso; daquele pensamento que está sempre ali, na dúvida de tentar ser um não-desastre de repente, um derrapante passo à frente, um pisar-em-falso no fora do último instante do respiro; chegar no suspiro num descuido com os próprios movimentos, num lampejo enganado, numa farfalha amorosa, num ritmo pausado, numa súbita incerteza seguida de uma dobra certeira, de uma experiência ativa, de uma série tímida; daquelas vezes que a tendência foi segura, foi dúvida esquecida, tão dissolvida entre as palavras que o assunto se nublou, se rendeu ao afofamento, se camuflou no tempo, se escondeu em meio ao que nunca existiu, mas que mesmo assim a gente foi vivendo; e vivendo a gente foi desvendo sem desvendar o que intuía, o que sentia forte sem saber porquê, o que morria em suspense de não saber o ato próprio; naquela vivência molenga, desestruturada, sonhadora, que não revela, que não coopera, que não se deixa embriagar, mas que dá uma canseira, essa roseira sem espinhos nem cheiro.

20121105

pobre cabeça que só sente o que não sai dela nem pra poder chegar nela.

quando a cabeça não muda de lugar, não aluga outro assunto, não sai pra passear, não te tenta nem te deixa tentar, quando tudo o que gira em torno dela é o que ela pensa o tempo todo, sem espaço pra suspiro, sem fuga de respiro, sem brecha nem brechó, sem roupa nem chimia, sem cozido nem assado, nem pão nem apatia, nem fôrma nem mistura, nem farinha nem sucata nem nada. nem choro vem nela.

20121101

Nem adianta tentar.

Deixar-te. Eu tenho medo do ótimo. Trovão sob trovão. As coisas trocam de lugar. Umas com as outras. Gosto de cigarro. Apagado. Eu queria pensar tão baixo que nem eu. Conseguisse ouvir, esquecer. Não há. Como dormir pra dentro do outro. Pensamento. Escapar do que eu acho.

Não vou achar. Nem perder.

[junho_2010]

20121031

Resumo de quarta:

crianças brincando de carrinho de rolimã até o fim do mundo onde as almas dos galetos são suspensas aos domingos enquanto tocamos piano e bebemos café sem açúcar.

que uma vontade era de ficar te ouvindo falar,

assim, pra passar o tempo...

Des-existir

Dia desses pensei seriamente em desistir e me matar de vez. Mas não como se mata uma casca, golpeando-a contra a quina da pia. Cederia, em vez disso, meu corpo à máquina, em morte súbita. Num abandono voluntário de ser flutuada, seria suspendida ao alcance do mundo. Mas antes certamente precisaria conversar em meia-voz com um amigo que não conversasse comigo, só que me abraçasse ao respirar os meus murmúrios. Depois disso, cabisbaixa, engoliria a mim mesma. Num exercício de digestão da máquina, então, expeliria eu de mim. Me vomitaria enquanto fosse devidamente maquinada. Maquiada ao olhar do metal. Seria finalmente uma dessas pessoas importantes que todos bocejam e celebram de vez em quando. Essas pessoas confinadas a serem aquilo que é ilhado de si mesmo, onde a água que as cerca é pelante e mete medo em quem não flutua nem poucas medidas.

20121030

Poema não põe mesa,
vai ver até hoje por isso
comi sentada no sofá
e nem tomei chá de sumiço.
meu nó tá nós

20121029

(com/para emilly terres)

- chove o céu
- chove o infinito
- toma-se banho de infinito
- o limite se deságua em mim
- o deslimite da água
- o banho da chuva
- o infinito do corpo
- meu desmaio teu desjunho
- nosso desjejum

colocar o despertador para lembrar que daqui 15min o despertador vai tocar

convite para a noite da panqueca

tudo no fora de seu devido limite

durar é diferente

todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento que difere morre a todo momento (infinitum)

20121023

expuséreis. vós répteis expondo

20121020

O passado é um bloco (presente);

se te vem um pedaço, te cai o bloco inteiro na cabeça.

Bloquear faz parte do abismo, pois a queda com tudo conspira, constripa, conscreve. De nada adianta diante de tudo. Te torcem os calcanhares, te roubam a leveza, te disparam o coração. Desde sempre esse vazio no estômago; ansiosa, à beira do precipício. Queixas que não são, que cão, que late de dúvida, abafando o choro, o coro de água, o susto do touro. Distâncias entre outras, corridas de breves suspiros, alívios na rigidez acostumada. Amor de amigo nem se fala.

20121017

passar o presente
presenteando o passado

20121014

deprimir-se por nada

por tudo
por tudo que é nada
todos os dias
noites
morrer em vão
em via viva

perceber o vazio que se é.

o cheio que não se vê. a mudez que se fala. o chão que se voa. as pessoas que se ama. todos que se perde. nesse caminho pausado. de passo-a-passo entrelaço. tudo frouxo. escapando de vento em roupa. de sutileza em lágrima. de magma. de estagnação. de abismo. de morrer até que a vida volte. de respiro entre as peles. de agulhas finíssimas. de tristes vergonhas. de corpos moles. de mortas cegonhas. de pernas curtas. de surtos. te mudas. mais uma vez. antes de

20121013

por que tu escreves essas coisas?

tem pergunta que eu me deslimito a responder com um exagerado silêncio

quando eu me flagro pensando a escrita

desde muita palavra que retomo confusão uma a uma. misturo todas na mesma textura. afogo tudo no mesmo gel. desenxergo na mesma névoa pra sentir. tudo junto, tudo muito, tudo aos poucos, sem saber o que é o que.

o sem saber me possui. sempre que não sei, sou meu universo. meu único.

feito louca que eu te amei,

sim, feito louça de vidro que acha que pode ser posta no forno sem rachar. eu quebrei, sim, feito louça que não pode ser posta no forno, mas se põe mesmo assim. eu calei, sim, porque falar entre as rachaduras da minha pele só as fazia ficar ainda mais secas e quietas. mas eu tentei. tentei sim, tentei não, tentei me abrir pra mim mesma. que eu te amei e não sabia mais como deixar de te amar. que eu quebrei sem saber me reformar. que eu sonhei, me mudei, me apaguei. que eu não mais estava em mim porque tu tinhas ocupado todo meu espaço. mesmo sem saber, mesmo sem ser realidade tu eras real. enquanto isso eu esqueci de ser. eu esqueci que me tinhas feito louca nas mãos. feito moça que não sabe o que quer, mas quer mesmo assim. feito lã. feito rã. feito fronha. que, sim, envolve teu alto travesseiro ainda hoje. mesmo que não sejas mais, mesmo que não vejas mais, mesmo que não mais eu te ame ainda. mesmo que eu te ame ainda mais.

20121011

medida de horas em gramas (para mari pic.)

14g30: tem horas que passam muito pesadas pela vida da gente, se arrastando de tão gordas, estufadas de tanta vida, de tanta quantidade de coisas, de coisas igualmente gordas, pesadas, chumbólicas, excessivas, massantes, que a gente mastiga repetidas e repetidas vezes, mas nunca consegue terminar, engolir e caminhar sem as costas curvas, sem o olhar pendente, perdido, arrependido de ter comido aquilo tudo de uma vez só, de ter optado por peso e não pelo buffet livre, comido aos poucos, sutilmente, de uma leveza lindíssima que a gente nem sente, quase como uma hora-alma que perambula no nosso dia, na nossa vida, no nosso corpo, na nossa morta hora-chumbo, na nossa horta interna, trabalhada, descansada, descascada, desajeitada e serena, sereno, noite, dia, vida, ano, século, fantasma. diga não aos fantasmas obesos.

20121009

tem finito que perdura

tem dia que não dá pra deixar passar; tem dia que não dá pra deixar; tem dia que não dá; não dá não; tem noite que dá; menos pra deixar passar; deixar passar dá pra deixar passar; dá pra ter dia que não; dá pra ter noite; dá pra deixar passar não;

20121007

03/10 2

destacada do rato
flutuada do doce
possuída do sono

03/10 1 - O rato estava pra lá de morto.

Qualquer coisa que fosse, o rato estava pra lá: pra lá de morto. Vê se pode: eu aqui escrevendo sobre o rato e o rato pra lá de morto. Que mentira: o tempo passou e eu não escrevi nada: eu pra lá de morta. Mas pra lá, tão pra lá, que estou aqui. Pra lá de viva?

20121005

justamente essa impotência

viver tentando combater. viver tentando não absorver se mantendo inteira. mas às vezes nos derrubam sem sabermos. e quando vemos já estamos com o corpo mole, pedindo socorro por corpos que escutem, que pensem, que enxerguem. não por corpos cegos, surdos e falantes só por conveniência do poder;
nota para um passado próximo: não nascer

20121004

com palavra tudo fica tão fácil:

tudo vira ação, tudo se move com tudo, com todos, com restos, com gostos, desgostos, olhares ou não. tudo tanto faz. se mexe, se dura, desaparece em qualquer fora. tudo se conecta, não importa procedência, aspecto ou violência. tudo vira, vira homem, vira-vira. tudo se desfaz, se desvira, se revira. tanto faz que tudo importa, até palavra que se diz morta. tudo até nada. nada até tudo e pesca. depois come e fala.

empalavrar

tem palavra que encaixa
tem caixa que empalavra

20121002

(o que restou de hoje: foi ontem)

26/09 1 - Ambrosia

Sonolenta, assento meus sustenidos e disparo insistentes sulfites aos alfaiates:

Disse eu - Quero essa linha em tracejo por cima desse órgão de bocejo, por menor que seja a superfície, nem que permita só um risco. Disse ele - Certo, nem que seja incerto e passante, translúcido, translúdico, transpúdico, suspiro. Disse eu - Ambrosial, que seja uma torta de mousse de chocolate ou de limão, que se lance em dia de domingo. Disse ele - Que se sustente, mesmo que pause em pipas ou bicicletas, salte de cilíndricas canelas em cravos pontiagudos, desapontados, permanecidos, rotacionados, filetados, tão assados que só eles... Disse eu - Confeitados e açucarados, resgatados aos mirtilos, aos mistérios que nos são sóis.

E ficaram os dois: formigando aos doces, papeando a sós, num sol bemol, na tecla destacada do piano do dia.

20120924

. estica¨¨tempo

umahora e eu aqui não largando dessa violência. na segunda, imagina o que viráráárá (insira ali seu pó):_____ por que temos horários né por quê: devia chegar na aula a hora que desse e aí todos chegariam como mágica " mas não, mundo pontiagudo

19/09 3

vagem vantagem
bobagem sobre bobagem
samba aqui samba ali
manteiga que derrete ou não
tanto faz
tanto que fez que fez não

19/09 2

ventania na escuta
bagunça na sala do ouvido
tudo trocado
dentro do não-lugar
barulhos embrulhados nos cantos
empilhados aos montes
orelha do elefante

19/09 1

um pensamento cítrico: uma pulsação na razão: ser estar conter contar: enxergar pra dentro da cabeça os trovões suspensos da fala: a própria fala intuitiva esquecida: pairando no ar: boiando no mar: beirando a bobeira da seriedade, do duplo-desmaiar: dormida dormente formigante: só de repuxos, de esculachos, de atrapalhos: deu, chega de estrangular as palavras.

12/09 3

catavento de língua
linguajar desaforado
vida giratória

12/09 2

distração é matéria de poesia, como essas que a gente encontra por aí, distraída de alguém que passou e deixou a rima escapar na caminhada: entre as mãos, entre os pés, entre a minha boca e a tua fala. rima é coisa mastigada, falada internamente, uma coceira na garganta: rima me tosse, me cospe, como se eu fosse fugida da poesia, por fora da poesia
do fora. sobremesa da fala: lento empilhamento: uma rima rápida como quem come pitada de palavra sobre a palavra pitada.

12/09 1

me emudeço me meço me esqueço
cada vez que volto na polpa

20120911

a vida não é flor que se cheire

atrofiamento catastrófico
quase-falo que perdi a voz
quando alguém te conhece pelo teu expresso presente, pelo teu excesso eu-não-fui eu-não-sou-outra que-sou-eu: sem passado-futuro pensado empasto: puro de ser veia avalanche de artéria bactéria (arredondada ninho de sabiá) mais cá do que lá: tenho gosto por espaços que me desconhecem me sambando tanto quanto quase: me quase fazendo eu sendo eu: estar afim desses-conectar-se a vizinhança enfim (sem fim) desfiada engajar-se na trapaça de se olhar de vesgueira por descuido por embaço descompasso meu fracasso: triangular de tão lince: amálgama amansado.

dando conta de suas potências

eis as minhas multiplicidades de chuá: juntar chuva-lápis com chuva-lápis-de-cor: atravessar um monismo incolor de tanto tateado sapateado embasbacado de tanto canto de tanto tom: tonificar os tornozelos potencializados pelos joelhos de queixo-caído de voz dormida de vez involuntária: fico prismada por ser mais desmedida do que sou por saber pouco menos de ser por sentir por sortir: viver-franzidamente mentir pra lá de contente: desdobrar de muro-em-muro migalhas vertentes: vertir vertigem vagem voragem: ter cuidado de tudo com tudo de tato com tato de tule com tatu: tatuar tecer traçar: intervir estender desvoltar: ir.

deslocar/des-loucar-se não

a quase-fala de hoje nasceu tão quase que mal fala, que bem-fala, que desfala, que desloca, que diz louca, que des-louca não. que quase me é paisagem, alocada em avenida de mão-dupla, de dupla-não. que posiciona, que me aciona, que axioma. axi-opa. quem pueril raíz de língua serviu.

quase-chat-fala - com emilleam

(Meu cel nao tem acento)
(no teu céu não chove?!)

20120906

não conseguir dormir é meu fato ao vir (ao vivo) ao mundo, ao virar mundo; ao viver fundo, não consigo sonhar e perambular tranquila por cima da vida, só pelo meio, só pêlo e meio, por riso me inundo.

20120824

ar que respiro, que respiras

Tem momentos em que você não se reconhece: misturas aleatórias dentro da cabeça: ex-namorados, ex-amigos, ex-familiares: ex é tudo o que me amolece quando penso que podia ter continuado: muita intimidade por água abaixo: muita pele, muito ar que respiro, que respiras, que respiramos coletivamente: capturas cruzadas de olhares, aconchegos ao vento sul, descansos ao vale do rio, pulsação à montanha sobre névoa: ser de passado plissado amassado: vida franzida: quem sou eu senão um pano pregueado que nem maracujá maduro, que nem neném recém nascido: é só de passado: é só de presente-futuro: que é passado, que é plissado, que é amassado: descansando que nem massa podre: gostosa, mas podre: como vou me reconhecer, se nem sequer me conheço? se sou ex-eu toda vida, a cada momento: é um andar diferente, um jeito estranho de respirar, uma fala falha, um pensamento teimoso: cada coisa que se forma é sob ex-eu: que me reforma, que me suspira, que me: ex-me.

20120819

(A verdade é que eu penso mais nas palavras que traduzem as coisas do que nas próprias coisas.)

Eu não me importo com os concretos que de mim pensam ser alguém que fala e nem diz nada.
E tem algo mais LEGAL que dizer nada?
Nada.

A vida não dorme, mas sonha.

A vida é um ovo de codorna posto por um avestruz. A vida é um abacate que caiu dum pé de tomate. A vida é a sombra da esfinge projetada por um prédio de sete andares. A vida paira no ar e pisca, pergunta se tudo vai bem e diz boa noite.

20120816

maçã-me

cobiça-me bobiça-me cobiça-me bobiça-me cobiça-me bobiça me-cobiça me-bobiça me-cobiça me-bo-biçame cobi-çame bobi-çame co-biçame cob-içam-e comaçã-me coma

20120813

que te importa ser entendida?!

se já te rumam os mares, já te transferem paladares, te ruminam os ritos, te salpicam infinitos,',',',',','tanto-tanto-tanto que faz ser um-dois-três trans-ferir trans-falar-podar-rasgar res-gatar: ronronar-te: ronronar-se-á lhe te bolar pelar fustigar. a-a-a-a-a-tiv-o-o-o-o-o-o. cultivo de fato fadado fosfato farfalho. tino t-ino tin-o tim-tim por tintino. paladino, paladim, pudim de quinu-á.

20120808

quem inventa seus vales esquenta
quem olha seus males molha

20120803

se nem a morte conclui a vida
se nem a ida inclui a sorte
se nem o corte insinua a sina

conclusão

etc.

20120802

sempre-se

nem sempre quasefala acontece, tanto que é quase---quase; nem sempre se ama, nem sempre se odeia, nem sempre se mata, nem sempre se chama, nem sempre se fronha, nem sempre se fada.

Preciso desabafar uma quasefala vazia: farei em terceira pessoa.

-se.

20120801

sem rima

sem rima,
sem rima,
sem rima,
sem rima,
sem rima,
amor,
ri.

20120731

quem insiste e vive e vive?

quem nunca pensou em tomar veneno em se jogar da ponte em se jogar no mar? quem nunca por descaso de vida atravessou a avenida mais movimentada sem olhar pros lados pra cima pros sentidos figurados? quem já se fez de trouxa ao escorregar nos olhares alheios nos travessões violados? por caso por mais por falhos plurais quem já se quis em pedaços em lascas em cascas em doença de chagas? quem não quis nada quem eu quem fui quem nem pensei nada disso? quem qualquer coisa que falte que abale que grite que cale? quem se faz cócegas cafuné chaminé chá de erva ou conferva?

20120729

simples é ser sozinho

escárnio

nessas meias-palavras, mortas, tortas, sonâmbulas, 
uivo na ignorância, 
neutralizo. 
entreolho, entrego, trago. 
rogo bem-me-queres 
recíprocos. 
corro. 
transpareço em vão. 
transpodreço. 
tropeço. infesto. 
esgo.

(memórias)

Esses amores que morrem
enterras em mares
entre mim e o mundo
entre nós e desatas
a vida entristece
nas visíveis luas
nas meias fadas
nas rezas fracas
nos sustos súbitos
de clareza-desmaio
de rimas frágeis
de laços frouxos
de moços
de moças
de poças
de poções mágicas
trágicas
fascinantes.

as coisas se repet-lem,

em outros corpos, 
em outros mortos, 
a todo momento.

mamam

manha em montanha,
manhã fanha,
amam minha mão 
minha fronha.

em crise

me crivo em ti, 
te encravo um cravo, 
te crio em cruz, 
te cruzo em jus, 
te fugo em luz, 
te imundo, 
te mordo, 
te mato,
te engato
em mim.

quando eu morrer eu quero virar água

algumas coisas têm sonhos nublados no passado
alguns sonhos são de coisas nubladas sem passado
alguns passados foram só de sonhos e coisas nubladas
alguns sonhos são encantados como passados não-nublados
outros encantos nascem de coisas que ainda não nasceram no passado

[agosto de 2008]

Os incomodados que se atirem.

Incomodem os retirados.
Mirem os mal-humorados.
Rimem os mau-olhados.

Me não. Me.

Não me incomodam mais os esfomeados, nem as chuvas de terras ou as mentiras amadas; nem me conquistam mais os queridos falados nem as meninas trombetas, muito menos os ensopados bocejos ou os bonitos carcomidos: me guardam lisas batatas, faceiros risotos e plantas bailantes; me choram os carnavais, os chacais e as cintilantes; me pairam céus, nuvens e peles secas; me gritam; me irritam; me chocam. Me vivo de mármore, de pouco-em-pouco me morro. Me assombram os mitos, os cílios e os cavalos. Me sobram. Me comem. Me mandam. Não me despeço de bobagem; não me conheço; não me paisagem. Me lindam, me minguam. Saiam todos, me deixem sair; só.

20120728

passagem ao passado

**porque o passado *parece
*aparece

20120726

jabuticaba é jabuti que acaba?!

20120709

por que amamos?

enquanto espancam as paredes do apartamento vizinho e martelam sem dó as cabeças em volta, enquanto os arquivos não abrem por error eorr oreoroore eorrorr eeorrr error, enquanto o cachorro tenta dormir alternando um olhar em mim e um olhar na parede que tanto batem; e aqui um parênteses: batem nessa parede há dias! enquanto caminho para uma enxaqueca aleatoriamente criativa ao esperar uma noite silenciosa e longínqua, tenho me fixado um pensamento abismal: por que amamos? seriam as marteladas, o error ou o cachorro com olhares alternados que me fariam pensar sobre isso?! o que me faria pensar sobre isso? por que amamos, céus macios, bocas moles e pernas bambas-bombas, por quê? é de trovejar as piscadas é de piscar os trovejos e no meio disso os maracujá-melões: melão por fora e maracujá por dentro. em ânsia de rocha que não pisca há séculos-luz, em luz que não ansia piscas em rochas seculares. um amálgama maluco em plena segunda-feira: descascadas as vértebras da parede, apunhalada sua pintura, sua partitura ofegante afoita fútil. um tremelique de choro, de coro de inambu. um embirro de bicas, de plicas, de lêmures, salpicas.

e eu ainda pertenço aos graus espaçados.

20120705

se é o final eu posso escolher: cair ou voar? - com silviathd

~ cair pode ser a vírgula, afinal de contas, a vírgula é um ponto final que cai!?!
~ e com essas cair a gente ainda não foi dormir instigar
~ quero ver aguentar cavalgar a aula de manhã cedinho acordadas cair a tarde de relatórios e cair como se não bastasse cair uma sexta à noite chuvosa voar

20120704

20120627

nem tudo voa

nem tudo nada
nem tudo baba
nem nada boba
nem nisso oba
nem nessa aba
nem nunca boa
nem nome não
nem name noa

20120624

gordamente palavréricas - com emilleam

~ tô gorda até o pescoço
~ tô gorda até o ouvido, gorda até o suspiro
~ gorda até a padaria da esquina, gorda até no universo paralelo
~ gorda até o avesso, e depois, e depois
~ gorda até do avesso e vice-versa
~ GORDAMENTE LOUCA: gorda até a mente, pingente, corrente, serpente
~ gordamente gordasente gordagente; vertente poente cadente; pente lente quente; gordafitness
~ gordatoda gordatorta gord-à-toa
~ petit gordé: mon petit gordé suiss mon du jour petit pois gordé gordé
~ gordalesa mas que beleza gordalenga
~ mas que beleza, em fevereiro teeeem gordaval
~ gorducha patota fofucha
~ gordamente fanha, gordamente fronha
~ gordamente atrasada!
~ gordamente eternemente atrasadamente&corpo: gordamente&corpo&alma
~ EXPERIMENTE NOSSO CREME PARA A PELE
~ DEIXA EU VER SUA ALMA GORDALMAMENTE
~ novo LUX LUXO gordamente&corpo&alma: pra sua pele ficar gordamente macia
~ gordamente impossível
~ GORDAMENTE MAGRA
~ gordamente: vidamente&corpo&alma&saúde&lazer

20120622

quem com fala fere, com cala será ferido

quem com mala bege, comigo será roído
quem com palha tece, com fisgo será puído
quem com quem merece, com quem será fervido
quem descer conhece, comigo se parece
quem com quem amolece, ésse ésse ésse

quem com pele fere, com pele será ferido

1 nada vale a pele
2 tudo vale a pele

20120614

vida:

tem quem aguente
tem quem não aguente
eu fico entre

20120612

O verão é enxaqueca e o inverno cachoeira, quando venta é porque pensei e não falei. O mar só enche quando tenho gripe e o ar só vence quando tô sem crise. Se chove é porque chorei pra dentro, se chorei pra fora é verão sem vento.

[março de 2010]

20120609

20120608

calor,

colar,
coral,
carol.

20120606

ad bionicum

uns são belos,
outros são libélulos

20120531

bobiça

arrumo o sofá com almofadas: saio e olho de volta: bob derruba algumas, deita e pensa olhando pra mim: "tinha pouco espaço pra deitar, poxa"

20120529

quasefala do bob

em dia de trovoada:
~esse cachorro rosnando deve ser imenso!

20120526

me cala e me muda.
me planta e me mala.

20120523

desassossego estapafúrdio

20120521

entre as suspensas prosas

relato e convenho, pratico injúrias e cítricas plenitudes pessoais, reparo brevemente e me retiro até a parede: que me esvai, me enquadra em andamento afirmativo, sim senhor. estamos aqui, sentados, pálidos ou bronzeados, ricos alfanuméricos, pressentindo um mar de ventania, bobeando, babando, brotando das cobertas geométricas. colírios são eles que nos pressionam: cóleras, coleiras, pulgas e alpargatas. eles não existem senão como grãos semi-visíveis: cintilantes, crocantes, abóboras. minha pele me coça, me ossa, me mira em mim mesma. molhados os olhos, me viro pra noite: converso comigo e me abraço, não me derrubo em desgosto, tenho liga e me embaço.

e cereal

estou cada vez mais pro inútil praquelas vidas todas que são pazes de plissar de jogar em aterro em enterro de ar de céu de mar qualquer coisa que insiste em passar pisar na terra nas guelras pulsantes pensantes flertantes com nuvens com sóis com sílabas capazes fugazes assaz em mel em miados em melados em véus sentidos capturados rompidos em cinco em dez em vinte e três soquetes raquetes ou placas vedetes ao meio-dia e meia corneta faceta azul de coringa marítimo ou ritmo ímpeto precipício de ossos

20120517

Uma lasquinha de sol no rosto,

logo pela manhã, deixa uma das dobras da testa um pouco mais iluminada das loucuras todas: loucas! loucas! loucas! A dobra é a menos tresloucada do que todas as outras. Ela é a única que percebe toda a aflição das dobras enquanto lutam para todos entenderem: as coisas não passam, as coisas franzem! Onde é plano as armadilhas estão armadas ou em processo de armação, já onde é franzido, todos sabem, as armadilhas dormem. E a luz, caso pegasse em plano, queimaria qualquer loucura em extensão de pele e isso soaria como a maior sensatez de todas: o medo de mudanças e de andanças: a pele lisa e única em sua polidez. Armadilhas dormidas não mais, o que seriam das faces dormidas se as peles-sensatas não percebessem a aflição das dobras? É um único/é um úmido/é um vício. O que é plano escorrega as coisas para frente, para trás e para os lados, como se nada se misturasse o tempo inteiro, que é inteiro por não ser segmentado em elegantes peles estáticas na [vida]. Não são camadas e não são organizadas, são só banhadas num todo que se encontra a todo instante e brilha por ser de gel, de geléia ou de doce-de-leite. Peles brilhantes descansam em paz e em doçura.

[2009]

20120514

desvida, mas não morte

20120507

Penso em cobertas azuis ou vermelhas

quando estão bem amarrotadas e cheias de sono. Viviam me dizendo para arrumar a cama: espantar meu sono de lá: enxotar os franzidos da noite. Eu nunca gostei muito desse método para acordar, gosto de saber que meu sono está guardado por dentro das dobras da coberta (pode ser a azul ou a vermelha). Parte do meu sono vem comigo para o banho: lá se vai sono ralo abaixo (ralo é rico em sono)(barata se alimenta de sono para não precisar dormir)(sono e cabelo se atraem). Mas a coberta, oras, não precisa disso, não precisa do dia dentro dela, ela é amaciada de sono, sonho e aquela dispersão de gente deitada. Por dentro das dobras da coberta tem uma sensação de livro de página amarelada, aconchegante e dormida. Cada franzido tem engolido um pensamento (ou dois, isso depende do espaço que cada pensamento ocupa no franzido e do espaço que o franzido tem para cada pensamento). Franzidos não estão só na coberta, mas também nas testas (com sono ou sem sono, com pensamento ou sem pensamento). Tem testa que franze tanto e é tão vazia, tem testa que franze pouco e transborda e tem testa que é certa, é focada na [vida], pensa e franze num equilíbrio que só na maior disperção das coisas planas que se consegue notar. Tem testa que é como coberta vermelha. Tem testa que é como coberta azul. [Tem testa que é do Tokyo e tem testa que não. Tem coberta que é do Tokyo e tem coberta que não.]

[2009]

vida franzida de roupas, pés, maracujás e nenéns

[eu me movimento][eu me dobro][a minha vida franze][a minha mãe chama franzir de emburrugar][eu me emburrugo toda][a minha saia é plissada][a minha roupa amassada eu não passo][a minha vida não é passada][a minha vida é franzida][a minha vida se encosta nela mesma][as dobras dos meus pés também][a minha testa franze pouco][as das pessoas variam][os maracujás me entendem bem][os nenéns também]

[2009]

20120429

escambau

ORIGEM OBSCURA

20120422

0809

neosaldina, digo, nostalgia

20120421

E chuvoso.

Hoje o dia está cenócito, cenótico, cetônico.

20120411

nem choro

nem cachorro

sem saída

aproximar-se do sumiço com cautela
com apreço esmiuçar-se por bobagem

20120405

ar dengasgo

20120404

a importância das desimportâncias

quase-falas não são falas ponto número um mas não mais importante que os outros eu diria digo já disse e por isso aqui de novo o ponto número dois não que enumerar faça alguma diferença mas me faço de organizada pra não desconfiarem as cebolas que carrego na bolsa ou as bolsas todas nos dois ombros não que enumerar os ombros seja uma forma de pesar algo de um lado e outro do outro como se o cérebro fosse assim separado mesmo que seja talvez mesmo sem válidas vorazes palpáveis assimiláveis ou outra alternativa às minhas quase-quase-quase-gagas-falas desimportantes desinformantes mas que sou eu assim mesmo desimportante e desinformante no meio dos importantes formais colossais magistrais computadores cortadores fresadores fazedores e apunhaladores de vértices vórtices metálicos sumários do auge que me plange que me fisga em que me rangem os bruxos os luxos os laxantes que deliram afetos sem rumo sem meio sem prumo sem cuidados apáticos telepáticos estáticos mas em volta disso os berros a raiva o medo e a descoragem de não se meter em sofreguidão contínua desperdiçada despedaçada alvoroçada desmagnólica

20120331

você aprende a cozinhar novos pratos quando:

1 tem muita comida em casa
2 tem quase nenhuma comida em casa

20120326

sobre desdém

me sento adiante da fina furiosa batina de seda de soda de foda não aguentar seguidas pulsantes piscantes plumantes são tuas mágoas mentiras fuligens focinhos ratinhos de corda de sorte de corte daquelas veias de plasma casca de jabuti siri saci que inveja todo o lado que não anda que não pausa que não chama que não pão que mão que manha envolta de pus de mousse de luz perdida nas águas de célula em célula de pele em parada de chão de só de choro de tudo que dá na mesma lesma resma flácida ácida esmiuçada em planta em pranto em bílis carnais chacais vidão de nada cumprimento em melodia parada

20120325

nada vale a pele
até que a mordida seja passada adiante murmúrio nada restará ao desgaste provocado pela ventania que murmúrio simultaneamente aos pensamentos arredondados dos solstícios murmúrio aborrece as redundâncias gramaticais cavalgar atinge-as de modo que todos os pássaros avoados murmúrio assim como os gatos que adormecem com convicção sobre os parapeitos murmúrio silenciam por meses a fio murmúrio a plano e a volume sopro queridos salamaleques dos meios-dias murmúrio margaridas murmúrio floras e letícias cavalgar todos convocados a esclarecer os fatos que não os fazem abrir os olhos murmúrio de tanto que acontece por baixo das pálpebras cavalgar oceanos transbordam pequenas coisas que não suas águas murmúrio humanos falam alguns lírios que não palavras murmúrio gatos andam em círculos que nem cachorros que apertam os olhos com força murmúrio vírgulas vivem juntas para se fazer de reticências murmúrio joões-de-barro sentam nas janelas murmúrio fabricantes de algodão murmúrio de pão sírio ou de ilustrações ilustres estupendas palpitantes translúcidas faiscantes pelúcias ou plastificantes são gratos pela sequência de chuvas sopro vento-chuva-vento-chuva sopro como ponto-e-vírgula cavalgar vírgula-vírgula-vírgula; ou gárgula cavalgar gárgula-gárgula-gárgula sopro
novelas murmúrio saladas e jornais de papel murmúrio ando meio cheia de tudo murmúrio seja barata murmúrio batata ou revista murmúrio pilha de livro ou prato de comida murmúrio ando meio vazia de tudo murmúrio tentando encher com chuva e suco de chuvisco sopro
eu vou aprendendo que o tempo é uma coisa louca mesmo sopro depois que vi o homem vendo sua própria morte enquanto menino pensei em duas coisas cavalgar 1quando eu encontro pessoas na rua murmúrio pessoas desconhecidas murmúrio uma delas pode ser eu mais velha ou eu mais nova murmúrio ou as duas coisas murmúrio ou várias delas murmúrio ou ainda eu de outras maneiras por viver em épocas culturalmente e de espíritos distantes 2uma hora ou outra pode ser possível eu pegar um caminho para onde nunca fui cactos e então não me encontrar na rua ou em outros lugares em outras épocas e conhecer pessoas que nunca conheci e me apaixonar por isso de estar sozinha e longe até de mim mesma cactos

que coisa estranha é esta das pessoas estarem sempre presas aos blocos da vida sopro-sopro-sopro eu ando e penso que as pessoas são só da minha cabeça sopro é murmúrio mais ou menos isso sopro se eu resolver mudar a minha cabeça as pessoas vão mudar também sopro e eu vou ser aquela outra-eu que esbarrou em mim enquanto eu caminhava no super-mercado procurando o iogurte perfeito para o dia de hoje sopro parece uma coisa meio egocêntrica dizer que eu me encontro por aí nas outras pessoas sopro mas a verdade é que as coisas são egocêntricas sopro e alguém consegue pensar no outro sem se colocar no lugar dele cactos numa dessas somos todos a mesma pessoa em fases da vida diferentes sopro

20120229

figura de
lamúria
fagulha
bissetriz
da perdição

olhar adiante

passante
passado
plissado
prismado
polonês
sentimento nítido,
movimento cínico, pálido,
bílico sentimento

de noz, de coz, de volta
a anos luz
de esquecimento fino
clínico, pífio,
racional e ruidoso

porcaria de sentimento

sem nexo conecto

meu olhar
com tua bolsa de ar
e respiro

loucura teatral - abismo

batizado de cardeais como se fosse loucura de ventríloco - pulsação com seu louco ventre - entre raios respiro levezas
respiro e lamúrias incógnitas - abismo - suspeitíssima aurora boreal de longa data - suspiro - nem que fosse capaz nem que parasse no tempo abismo do meu estômago cuido eu abismo ou respiro triplo

aqui estava uma daquelas

em lírios, fagulhas, borbulhas
em poucas
porém desastrosas,
em bocas, em aves, em rosas,
sorte não ser
uma daquelas - pulsação
daquelas - pulsação, sabe - abismo
qualquer
uma daquelas entre rios,
entre rins,
riachos e deixas - pulsação
entre nós,
entre goiabeiras de delírios
e neve e quase tudo
daquelas - abismo
ser abismal me deixa - pulsação
mais ou menos
menos ou mais - pulsação
como ser
como aquilo ou aquelas daquela
abismo
tudo passa





até a vida

20120131

Se o mundo acabar quando eu estiver dormindo,
fico pra sempre presa no meu sonho?

E se o mundo acabar quando eu estiver sonhando
com o próprio fim do mundo, anula fim com fim
e eu fico pra sempre num mundo sem fim?
AS PALAVRAS ME PALAVRAM.

20120121

quase-vômito

não sou lá muito de polêmica helênica barbárica ou qualquer afronta às quase bandeiras ou qualquer bandeira às quase afrontas, mas tenho ódio elefântico de preconceito sem sentido de gente das cavernas cibernéticas das badernas noturnas diurnas viróticas das bobagens de critérios idiotizáveis insuportáveis inaceitáveis em naves em níveis quaisquer que forem quaisquer que vivam quaisquer que queiram ser presentes ausentes ou outra coisa bendita maldita finita restrita ou cabrita erudita. não me interessam pessoas inoportunas parentes serpentes e vertentes cujo expoente crente de sabedoria avisa náuseas cerebélicas sérias de asco noturno a longa distância. sem mais, menos sono sino tino ou regalia frenética involuntária patética de palavras lúgubres insalubre cuspe das duas horas.

20120114

Novelas, saladas e jornais de papel, ando meio cheia de tudo, seja barata, batata ou revista, pilha de livro ou prato de comida, ando meio vazia de tudo, tentando encher com chuva e suco de chuvisco.

20120103

até que a mordida seja passada adiante, nada restará ao desgaste provocado pela ventania que, simultaneamente aos pensamentos arredondados dos solstícios, aborrece as redundâncias gramaticais: atinge-as de modo que todos os pássaros avoados, assim como os gatos que adormecem com convicção sobre os parapeitos, silenciam por meses a fio, a plano e a volume. queridos salamaleques dos meios-dias, margaridas, floras e letícias: todos convocados a esclarecer os fatos que não os fazem abrir os olhos, de tanto que acontece por baixo das pálpebras: oceanos transbordam pequenas coisas que não suas águas, humanos falam alguns lírios que não palavras, gatos andam em círculos que nem cachorros que apertam os olhos com força, vírgulas vivem juntas para se fazer de reticências, joões-de-barro sentam nas janelas, fabricantes de algodão, de pão sírio ou de ilustrações ilustres estupendas palpitantes translúcidas faiscantes pelúcias ou plastificantes são gratos pela sequência de chuvas. vento-chuva-vento-chuva. como ponto-e-vírgula: vírgula-vírgula-vírgula; ou gárgula: gárgula-gárgula-gárgula.