20091217

Notei que meu silêncio é uma tática,

eu me escondo por trás do que pensam de mim, posso ser qualquer coisa.

20091212

quasefala ou não quasefala

se penso demais, falo demais por falar tudo o que penso. se não penso demais, falo demais por falar pensando. minha cabeça/coração não funciona com variações quantitativas: falo minhas falas ou falo meus silêncios. mas algumas vezes silencio vazios, que é quando não falo, mesmo que nem sempre que não falo, os silêncios tenham sido vazios, que é quando quasefalo ou não-quasefalo, o que é invariável se a não-quasefala for um silêncio vazio.
falo feio ou falo fail

20091201

anna anna

quando você está sozinho demais, você pode se ter como melhor amigo fácilfácil. contudo, isto pode ser um grande problema, problemão de primeira. você não sabe mais quem está confuso, se é você ou você. sua cama tem espaço para dois e não é à toa. sua cama sabe que você é duas pessoas. e nela você cabe.

20091102

O word diria: esta frase está muito longa.

Estou tonta como mosquito envenenado ou barata empoeirada, quero dizer que, em qualquer dos cantos da casa, a minha noite será alongada e um pouco dispersa, mesmo que produtiva, não sobrará migalhas pensantes para manhã de calor que fará nesta terça-feira.

20091026

o meu objetivo não é ser bonita.

o meu objetivo é mudar. porque quando eu mudo eu sou bonita.

20091007

do a limerick
because is so patrick
lot a lot of rime
in a little time
like a movie lick

20091005

Tornar mais fresco

Tudo continua quebrado, mas Frangoni me emprestou a cola (não o coala) preenchendo o vazio de uma cuia lindíssima. Quase cinco cerdas pra eu conseguir, hoje (ou ontem-quase-hoje), que as coisas entrassem em processo de reanimação ao passar pela cuia.
Andei meio morta por algum tempo, na inércia de nem saber mais das minhas próprias crenças, mas foi aí que a minha mãe me telefonou e me explicou sobre o banco e suas três pernas.
As coisas fizeram sentido quando notei que delas eu tinha me perdido. Muito me perdido. Aliás, nem recordava mais da existência delas. Os três pés, um pra cada coisa, ou pra cada conjunto de coisas.
Fui ao sebo e comprei alguns livros. Um deles foi a pista pra cola. Refreshei: tomei ar fresco.

20091003

nem corpo
nem mundo
nem fundo do porco
nem fundo do morto
eu não sou muito suave
nem tinta, nem doce
serei branca?

20090928

acordar para florir

solidão não é mais uma tarde secreta
pela cidade
por uma rua deserta

é um pouco mais a noite a dois
não sei bem
nem agora nem depois

tanto tempo confusa-pensativa
que desisto
da coisa viva

EU QUASE PENSEI UMA COISA AOS POUCOS

EU PENSEI UM QUASE-POUCO NAS COISAS

UM ESQUILO

UM POUCO QUASE ISTO
UM POUCO AQUILO
UM AQUILO QUASE ISTO

20090926

paixões sem rumo

é só o que eu tenho

20090923

provolone na melancia

faço cócegas em mim mesma pra ver se passo essa cólica da barriga e espirro. qualquer tomada a mais é vista como remetente de respiração ou suspiro. mover os olhos pra meia azul é como comer açúcar de colher ou uva passa. piscar e dormir sem querer pra ver se acordo ano que vem é mais que massa. sei muito bem que felicidade dá é em natureza morta. e a colheita é lá pela meia-noite numa ceia com mousse e meia torta. guloseimas dançantes, parafusos passantes. é um absurdo melhor tarde do que antes

20090910

PRÓXIMO PASSEIO PRIMAVÉRICO

1 convidar alguém em dia de domingo, não necessariamente no domingo
2 vestir uma roupa confortável e um sapato de plástico
3 empacotar algumas frutas ou cenouras prontas para comer
4 passar protetor solar se fizer sol ou alta claridade
5 lembrar do guarda-chuva se estiver nublado, chuviscando ou chovendo
6 levar o mp3 player com várias músicas
7 ir até o ponto de ônibus das redondezas que passar mais ônibus
8 pegar o primeiro ônibus que passar
9 ligar o mp3 player no shuffle
10 ouvir seis músicas (para florianópolis, seis músicas está de bom tamanho)
11 puxar a cordinha e saltar no próximo ponto
12 passear a pé com sua companhia até o conforto ou o dia acabar

20090909

oqé oqé

um caminho calminho de calmaria não é um caminho calmo, nem calvo, nem cravo








é um caminhão

em pleno outono 77 ou em fim de inverno 09

a nuvem me falou-sem-falar desde o início:
"eu gosto de você"

foi quando li o que dormia dentro dela comigo:
"eu gosto de você também"

20090906

me disseram que eu disse ontem

"ei, sopra aqui. vamos trocar um ar"

20090829

A METADE DE UM POUCO É MENOS AINDA

[ ]

a metade de dentro de um pouco de sal
é menos áspero ainda.

a metade de fora de um pouco de gel
é menos quente ainda.

o dobro de muito barulho
é mais enxaqueca ainda.

o dobro de muita luz
é mais ainda que a morte.

[

NÃO-PORTA

no-vela

Sorte ou azar?

Minha memória fraca só não funciona com amor.

AMOR DEMAIS

supera um ou dois
mente baixinho, depois
não foi nada, nem lembra mais
sorri de outros carnavais

ele parecia ter tudo e ela nada
mas quando voltar a sorrir também vai ser lembrada
com carinho e com saudade
de tanto jeitos, de tantas falas
tanto amor em poucas malas

eu quero dizer algumas coisas
quanto a nós, quanto ao que somos agora
ninguém podia adivinhar
que nada ia sumir como o previsto
nos papéis que guardei nas gavetinhas
e amarrei com fitinhas finas
o que passamos dentro da névoa
com tanto vício

juro que não vou me entregar
a viver na saudade
só porque queria de novo
para lembrar ainda mais
como era sentir amor demais
daqueles que são mesmo de verdade

20090827

eco dá no oco

seco dá no soco
medo do moço

20090826

portas e porcas

ladainha de tristeza, aspereza pesada, pensamento granulado, gelado e ainda virado de costas pra mim!
é que eu desconfio de tontura sem leveza...

- é burra como uma porta!
- come feito uma porca!

portarias são leves, são vazias.
porcarias são gordas, são azias.

eu não tenho saúde, é saudade


eu sinto saudade de você, mas eu não tenho, ainda bem.


eu sinto saudade de você, mas eu não tenho ainda.


eu sinto saudade de você, mas eu não tenho.


eu sinto saudade de você, mas eu não.


eu sinto saudade de você.


eu sinto saúde.


eu sim.

20090824

é assim pelo menos um quinto do dia

quando eu passo muito tempo sem pensar, minha cabeça flutua num marasmo todo pasmo e arriscado de riscar.

me vem um voo: _____________.
um cheio de moleza: ~~~~~~~.

um cheio tão miúdo, densificado num embrulho nada nu, todo pardo e marcado. um prazer enorme de moça sardinha.

20090810

não necessariamente nessa ordem

p-arte 1: nem todo poeta pateta escreve poéticas patéticas, eles mais discutem com os poemas do que os escrevem. os descrevem. o poema na verdade nem existe, o que existe é o que deveria ser o poema

p-orte 2: fazer concreto o que não se permite, física e sentimentalmente falando. pausar o tempo em que isso não era (no caso, não "é") exprimível em formas

p-orta 3: informar, finalmente, densamente, ente

p-ente 4: informalmente

20090803

gargantilha é armadilha de garganta
apelativo é banhar a pele pelada de pelos e panos com água pelando pela noite

20090723

pocilga pocilga

pessoas passeiam com passos de poça em poça. pisoteiam passagens e piscam para postes possuídos. pressentem pestes à pulsar. possuem paçocas pastosas e pistolas passageiras. param de posse, pássaro no céu é sorte. pulam na piscina para pensar em pistilos. pescam pistas, as porcas são iscas.

passam.

assam.

20090722

tanto que fico quase toda

tanta cólica, tanta coca, tanta clica
fico aflita, fico fita, fico ali, fico talita
quase sempre, quase sem, quase pressinto
toda louca, toda rouca, toda pouca
foi que cresci, dormi ou morri

20090712

entediada2: exagerada1

Não combino mais com este lugar,
por isso vou-me embora devagar:
sem lamúrias ou explicações,
nunca gostei mesmo de explosões,
cansei de tudo, até do mar.

entediada1

Tô começando a forçar felicidade
por encarar a falta de vontade
de tar no meio das pessoas
que pra mim sempre foram boas.
Tô estranha, na verdade, tô saudade.

20090704

Eu não sei porque penso tanto em palavras para traduzir algumas coisas.

A verdade é que eu penso mais nas palavras que traduzem as coisas do que nas próprias coisas. As coisas, por mim, nem precisariam existir por concreto, pois, para mim, a essência está NA essência. As coisas que não têm essência podem até me atrair por concreto, mas são as essências por completo que me preenchem, mesmo que afastadas de mim por decreto.

Eu não me importo com os concretos que de mim pensam ser alguém que fala e nem diz nada.
E tem algo mais LEGAL que dizer nada?
Nada.

A verdade é que eu digo, mas o problema é que eu esqueço do concreto. E nada é o que não é concreto. Nada mais, nada menos que isso.

Eu me apavoro em vão, em ser essência para estar no mundo. EM ESTAR NO MUNDO.

A minha vida nem me pertence...

Eu não sou muito seletiva, isso é uma grande verdade. Vou enchendo, enchendo até nada mais caber. Às vezes, eu estou tão preenchida que quando tento me olhar por dentro não consigo, pois falta espaço até pro meu próprio olhar. Nem me autoavaliar é coisa que está ao meu alcance. Nem as minhas pessoas, nem as minhas ações. Que coisa esquecer de incluir a si mesma na própria vida!

bobas de chocolate

Maika
bolha de ar bolha de ar bolha de ar
boba de ar

Anna Paula
ar de chocolate
boba de chocolate

Maika
bomba de ar
bodas de chocolate

Anna Paula
bodas de bobas
dados de bobos
bobos de babas

dadas aos bobos
dados às babas
babo nas nabas

nabos de babas
babas bananas

Desdesign

Maika
(...) Não digo que eu não goste dessa sensação de loucura.
Ora, que maior loucura de que alguém gostar de virar noite fazendo coisas?
Não acham que o mundo tem coisas demais?
Precisamos desfazer coisas, não fazer.
Queria ser uma desdesigner. (...)

Anna Paula
oi, quer desconversar?

Maika
Quero desenhar. Quer?

Anna Paula
só se for des em ar: pq é coisa de desdesigner. (ainer é ar em alemão.)

Maika
ah... entendi
ta bom.
vou de sem ar. depois tiro uma foto e te mando!
ta bom?

Anna Paula
tá bom, tá vácuo.

Anna Paula
queria um de zen de ar no vácuo, dá ou desdá?

Maika
acho que ele iria se espalhar, ante de dar pra ver. quem nem xixi no espaço.
mas o efeito ia ser parecido

Anna Paula
xixi no espaço some antes de dar pra ver? banheiros deviam ser feitos de espaço! xixis desviariam dos urinantes?

Maika
é fato! eu mesmo, nunca vi xixi no espaço.

Luciano
some ao olho de quem faz, mas não deixa de existir...

Anna Paula
no espaço não se faz xixi, se desfaz. assim como fazer desfazendo a sobrancelha. é que o desdesigner faz desfazendo. entendi!

Maika
Nossa, os designer de sobrancelhas são desdesigner por essência!

Maika
Nossa, os designerS de sobrancelhas são desdesignerS por essência!

Almofada de algodão é segredo pra nascer idéia de feijão.

Cresce feijão em quem tem cabeça de algodão,
cria almofada quem é macio por invenção,
sente a doçura de quem é fada ou de quem é foca,
exprime toda essa fala em fofura ou fofoca,
escorrega em limo de palavra e confusão.

post-conversa pro viniarcoirá

as almas das fadas são almofadadas.
criadores de algodão têm alma de fada?

(sempre desconfiei que algodão não era lá
coisa muito humana mesmo...)

20090702

matadores de fofoca são bons
matadores de foca são maus

20090615

post-conversa pra maika milezzi

em semanas poucas as coisas vão voltar
e eu vou voltar para as coisas muito.
ps <=> c + id <=> cm

em semanas muito as coisas vão lotar

de tanto pouco, mas tanto quanto.
sm = c + lot = [ ][ ][ ][ ][ ] (û)

sendo ps as semanas poucas, as quais se representam por poucas semanas ou postscriptum que, como são poucas assim, são descritas somente quando o nt, tempo nenhum (apud DESTERRENSE, 2009), folga e, então, o <=> vai e vém para o id, indivíduo (neste caso, eu), que <=> para as cm, coisas muito. enquanto isso, as sm, semanas muito, são cheias, lot, de poucos, sendo [ ] um dos poucos (û, tanto quanto, as cm de cima).

20090614

o mundo não vai pra frente
porque fica dando voltas
em torno de seu próprio umbigo

20090610

post-conversa pra tati plens

sempre (desde o momento em que pensei nisso) achei que são quatro situações:
1 estar escorrendo e sentir-se escorrendo, como chorar bonito ou chorar alto
2 estar escorrendo e não sentir-se escorrendo, como num esconderijo subconsciente de si mesma
3 não estar escorrendo mas sentir-se escorrendo, numa ânsia/invenção/proposição de sentir
4 não estar escorrendo nem sentir-se escorrendo, como as máquinas que esbarramos pelos shoppings, pelas imobiliárias ou pelas universidades (nem preciso citar os políticos ou os matadores de foca)

20090608

Raiva, medo, ansiedade e desejo são coisas que caem da nuvem e se esburracham no chão (duro porque combina).

Nasci emburrada com a minha vinda no mundo (e hoje sou feliz pra compensar o mundo) e de (já) saudade da quentinha e espaçosa barriga da minha mãe. Cresci bem suave e bem inocente, como algum projeto pessoal que demora o tempo que quer e que precisa para acontecer. Depois de suave, tive que aprender a ser esperta e, junto ainda, inteligente (foi quando pensei que isso fosse coisa essencial pra ser e estar no mundo). Fui surpreendida: dissolver aspereza com suavidade. Esperteza e inteligência não dissolvem e não se dissolvem, são tão duras e ásperas quanto a impaciência e as certezas (tão rígidas e claras). Então lembrei da névoa: tão mole, tão incerta e tão inocente. E, suave, vou tentar ser esperta e inteligente com toda a inocência que o mundo não permite.

20090606

leveza

o mais engraçado é quando não se sente nada quando se espera sentir muito. sentir off: sentoff é quase stolf. sentir-se off é uma bagunça: bagunçar sentimento pouco é como preencher vazio com espuma de explosão. como se fosse leveza: não por ser leve, mas por ser pouco.

o que acontece?

mentira é uma coisa saudável. viver sem um pouco de mentira, um pouco de ilusão e um pouco de invenção não é coisa que acontece, tudo porque a mentira é tão querida quanto o cenário das versões. (as verdades nem existem, o que existem são lembranças que são versões do que acontece.)

eu lembro que acontece o que eu invento.
eu invento o que eu lembro que acontece.

murmúrio

lamúria, apesar da significação, é uma palavra que me deixa feliz. é como luminária, luminúria, lamurinária ou malária.

c-aqui

o que eu poderia fazer neste resto de mundo, neste resto de noite, se não ficar tão feliz assim com estes caquis maduríssimos? fiquei tão feliz ao pensar que eram tomates se desmanchando e se transformando em caquis... e não é que já estavam caquis? tanto caqui que comi todos os ferros de uma vez só.

20090528

ormigren e memória ram são duas coisas que resolveriam meus problemas. outra coisa é um trailler. 

pudim de mundo

não é a primeira vez que faço um presente pra alguém mas fico pra mim. eu vivo dessa mistura de tempo e me dou de presente alguma lembrança de mim mesma. assim, nado nesse pudim de mundo, nessa meleca que não se dissolve e é tão difícil de desgrudar do corpo. é como o gel das relações, é a minha relação com o mundo: o meu pudim.

20090516

coco is as

  1. esquisito
  2. mosquito
  3. skinny
  4. esquilo

20090511

o sossego apareceu tão distante

mesmo se expandindo depressa ao engolir o mundo sem ninguém perceber. eu fiquei com uma dúvida enquanto o vento me bagunçava por fora: este mundo está em que sentido? 

olhei pro chão por minutos quase eternizados e vi uma flor rosa caminhando: vi duas, vi três e logo vi que o pedaço de chão rosa estava inteiro caminhando. estaria o pedaço de chão a caminho do largo sossego? 

eu quis muito me diminuir até ninguém mais me ver... pra caminhar pro sossego também. eu não extrapolei nos pensamentos lamuriosos porque o dia estava muito lindo e fresco. só não está assim o mundo. 

o meu mundo demora demais, também as minhas pessoas e as minhas flores. as ausências não demoram. e é por isso que eu as amo tanto.

20090509

meu, minha, meu ninho

na caminha, 
caminhar de caminho em caminho 
sem cominho comigo

20090505

ontem mesmo:

chovia, dava sol, chovia, dava sol, chovia, dava sol, chovia, dava sol, chovia, dava sol, chovia, dava sol e depois de uma eternidade e pouco eu vim pra casa sem chuva. foi incrível! (tirando a parte que sacudi o addes de morango que tava meio aberto e eu não vi: em vez de pegar chuva, peguei addes de morango pra me molhar)

20090429

faço um check list ou outro

pra acertar grande parte do meu gosto.
não quero pouco, mas também não quero demais,
só não pode comer animais
nem falar só de números e coisas chatas
(como se a vida fosse coisa exata)
e ser chato de galocha,
metido, falador ou jogador de bocha
(tá, isso pode, poxa).
tirando isso, também não quero gente pequena,
que nunca sabe o que quer,
nem como agir em ocasião qualquer.

gosto de pessoas um pouco aéreas,
de bom gosto e de bom humor,
que aproveitem o ano e que gostem de férias.

20090427

método de pelúcia

Tudo bem, eu já sei do erro todo
que me enche de tanto lodo.
Mas é que tá me faltando astúcia
como a de bichinho de pelúcia
que tem um macio método.

20090425

boboca

assim que a nossa noite passou, escorri toda ao te olhar dormindo. tive uma sensação de cereja que te perderia mesmo antes de qualquer coisa. parecia que eu conhecia teus pães de queijo sem te saber. mas mesmo assim projetei em ti um filme-mais-que-perfeito. eu sei que sou distante e só te provei o quanto gosto de ser sozinha. mas naquela manhã enquanto te pensava eu só te queria pra sempre sob o orelhão

que a cuca vem pegar

sempre soube que só pegaria no sono quando meus pés esquentassem. ninguém sonha com os pés gelados

fanta asma

macarrão de camarão
tetris triste no titri
olheira até na orelha
pizza de pixel

20090420

cocoisas de galináceos

cócoras é como os galináceos se acomodam no espaço
cocoricó é como os galináceos se comunicam
cacoete é coisa galináceo extra-terrestre
coca-cola é a bebida favorita dos galináceos
cocota é a galinha que usa salto alto

rata rouca, roqueira e risonha

é um lobo-mau? 
é um esquilo? 
é um urso? 
é um cachorro?
a rata é rouca,
mexe o focinho com a pata 
e dá tchau de coceirinha
pi, play e pé-dra!
(guardanapo é café-com-leite)

20090419

lista pista proposição

farinha farofa farelo poeira fanfarra folia fofoca 
família falação feriado palpitante fixação correria gritaria nostalgia
futuro curiosidade profissão felicidade criação fotografia coleção piração magia chocolate
inércia tpm televisão guloseima preguiça
festança formatura viagem amizade saudade amor alegria prazer simpatia pixel chocolate
cinema suspiro do dia
doçura procura alguém amor
engrenagem esquecimento arquivo documento 
mapa visita amor vida
molenga conga palerma palermo ameba gorda
coisa concreta fato pato lago
coisa miúda minúcia astúcia solidão

20090418

f-me

quando um rato chega por perto é xadrez, é sensato, é preso no mundo dos botões, mas porque é rato, porque é xadrez e porque, de fato, tem doze corações nas patas. patas de água. longínquas quando se fecha os olhos. só um palpite. só palpita. um por um a pisar em chão líquido. em chão de pó, de nuvem, de calma, de alma ou de alfajor. eu tinha ganho e eu perdi. migalhas palpitantes. prende os olhos com alfinetes e desiste. alfineta os pensamentos que o xadrez mais permite. emite luz. calor. simpatia. é tudo tão simpático de noite. quando as pessoas viajam, as outras permitem. quem é viajado é meio xadrez e meio rato. quem permite é meio perto e meio sensato. essa coisa toda podia ser chamada de flama ou de lama. porque "f" é só coisa de vento. me f. 
peruca é uma palavra bonita

sensação de filme

sílabas entre aspas são tão suspeitas. tão suspeitas, tão cansadas como a poeira da última gaveta. como o pássaro que canta, mas não existe. o pássaro que nasce toda manhã dentro da cabeça. como um método novo por dia. um pepino-pele-de-sapo a menos por manhã. naquela que, um dia, acordou cheia de sol e calor escondido. foi que pulou do sol um gatinho tão aconchegante em olhares que mal dava pra desviar da fuga. coroei. foi que tirei aquela foto de coisa-morta e coisa-viva em gigantesca nuvem de névoa, daquelas bem densas e cinematográficas. parecia até feita de gel. ou de polpa de maçã como é feita a alma. para onde foram todos os fios dos caminhos já percorridos? se perderam ou foram vendidos? tudo porque o que interessa é o que fica. tanto carinho longe esfarela qualquer calma que marca o caminho de volta. não que eu volte. eu engoli as chuvinhas, chovi as pitangas e girei bem vermelha. mas sempre existem pombos famintos de calma na cidade. suja. cheia de farelo. cheia de calma. limpa. bá bá bá. cheia de alma. 

20090417

coleções

eu vou resgatar minhas paixões por coisas franzidas, emburradas e amassadas. logo depois, ou, na verdade, pode ser tudo ao mesmo tempo, vou colecionar números de casas. uns com desenhos, outros com letras junto, de cerâmica, de aço (porque ferro nem existe - essa mania das coisas de existir e deixar de existir) e tudo mais misturado. eu quero também colecionar carinhos (talvez até sem registros): os tipos de carinhos: apertados, leves, fluidos, bruscos, secos, e também onde são feitos e em quem ou no que (cães, gatos, pessoas, bichinhos de pano, monitores de computador...). e, ainda, colecionar partes do corpo das pessoas que eu gosto, como: atrás do joelho, os ossinhos do lado do pé, o início do calcanhar visto por trás (aquele músculo bonito), os meios de testas (entre um olho e outro), a região da barriga abaixo do umbigo, o ossinho antes da mão, o pulso por dentro franzido (esse entra nas coisas franzidas também) e os sorrisos (que são clichês, mas eu adoro também) - de bocas fechadas e abertas. e mesmo que umbigos façam parte das partes do corpo, eu quero que a coleção de umbigos seja à parte. eu quero ter vários umbigos desconhecidos, eles têm que ser desconhecidos. e a última coisa: sempre que eu for a algum lugar novo (e não esquecer) eu quero uma pedra do lugar e, então, ando com essa pedra sempre comigo até ir a outro lugar novo, onde eu pego outra pedra e no lugar dela coloco a do outro lugar.

dia desses eu passei de alegre para alecrim

dourado

verde-água
azul-piscina
azul-petróleo
verde-bandeira
verde-mar
azul-celeste
verde-limão
azulzinho
azulzão
verdinho
verdão
verde-abacate
verde-musgo
verde-grama
azul-royal
azul-calcinha
azul-esverdeado
verde-azulado
azul-acinzentado
verde-oliva
azulejo

20090414

as almas das fadas são almofadadas

quem tem fada não tem alma, tem almofada.
pode ser um mofo de álcool ou uma alma fadada.

as almas são macias e floridas,
as fadas são de espuma espessa,
as almofadas fazem montes de flor.

flor sob flor ou mofo sob mofo,
espuma sob flor ou mofo sob alma,
fada sob fada sob fada sob fada.

quem come fada come bife de alma,
come almofada e bebe álcool mofado.

20090412

arriscar o plano C.

(é fase de risco. é fase de linha.)
nas mínimas. 
nos mínimos. 
nas minhas. 
nos ninhos.
haja menina para tanto mínimo. 
haja mínima para tanto menino.
(é de moçambique, não é de moça nem de bique.)
(me cala e me muda. me planta e me mala.)
(esperei até o fim e depois? foi então que fui feliz para quase-sempre.)coisadeluci
(morei num ninho de leite. minhoca não tem pente.)
(fiquei saltitante por dois instantes: um de sal e um barbante.)
(fugi dessa rapaziada louca para não -frase incompleta)coisadetokyo

20090411

some de surpresa

olhos pingados em óleos piscados em olhos piscados em óleos pingados em olhos

óleos piscam olhos quando olhos pingam óleos
olhos pingam óleos quando óleos pingam pós

óleos pingam pós, 
pós piscam olhos

pinga-pinga e pisca-pisca
pinga-pisca e pisca-pinga

pisca-pó e pinga-pó
pó pinga-pisca pó
pó pisca-pinga pó
pó-pinga e pó-pisca

pinga-óleo e pisca-olho
pó de óleo e olho em pó

20090405

calem a boca, cotovelos!

pssssssssssssssssssssssssss
(eu não sou resumida)

20090404

miss you, moço!

- moço, me vê um mousse de maçã amassadinha?
- a massa mixuruca nem se mexe, moça, mas misturou. 
- que isso, tá uma massera de mousse! maçaroca de messias!

- mosquito ou mostarda?
- mosca mosqueteira!

- o monstro de miçanga é mestre em massagem macia.
- é musculoso e musgoso?
- é uma mescla.
- neste mesmo mês será o massacre: mastigará o mascote mascarado na masmorra.

20090319

20090318

saco cheio é que nem coração de mãe, sempre cabe mais alguma coisa. haja (chá de)saquinho

20090316

(por enquanto, menos. porém, quanto mais)

bem menos descansar da vida
bem menos fazer de conta que tudo é lindo
bem menos esperar alguma coisa mágica acontecer
bem menos achar que um dia as pessoas vão mudar
um pouco menos pensamentos em futuro e profissão
um pouco menos preocupações com dinheiro
muito menos desestabilidade emocional
bem mais energias pra fechar o meu cortezinho no rosto
muito menos energias pra me deixar feliz

ansiosa e distraída

vomitarei
vomita areia

20090314

anna de molho

molho de anna
manha de olho
alho de malha
malha de anna
manha de alho

20090309

Ser só minha.

Prefiro um mal no meu corpo do que provocar um mal no outro corpo. Eu vou me torcer para ficar ainda mais seca. Eu não quero torcer o outro corpo. Eu não quero o outro corpo. Eu quero me torcer e ser uma só.

Num pingar de olhos.

Num piscar de óleos pensei densamente numa continuidade distorcida e de ruídos graves: não dissolve pedra em nuvem. 

Ólea: póla por um fio em alfinete metálico e gelado: não espeto rancores!

Sólen:

O meu design só pensa em função-pólen: amarela e em pó. Eu cansei de diluir fala. Permaneço estática e aflita de palavras sem função-solvente. Só pó. Só ólen. Sólen. 

Quem fala?

Corpo percorre corpo, percorre parado, enjoado. Murmúrio de sangue correndo de corpo em corpo ou de água filtrada ou fervida de bule em bule. Coisa aqui em contato com coisa ali. Vinil viril pegajoso em porco-corpo frio. Compatibilidade de verdadeiro e falso. Cutucar ferida fervida em pele ansiosa por tempo-fim. A essência da essência. Nada é tão essencial quando o céu não está maduro. Todo mundo amará doce grátis. O futuro nunca chega. O presente não tem liga metálica com o passado. O passado não quebra. O passado não assa. O passado é massa crua. O presente é massa-podre. O futuro é o presente que não pára. Não quero falar de superfície. Resta que a zona rural sempre conforta os aflitos. Planta. A zona rural planta. E se os corpos nascem de outros corpos, a vida não tem fim. A vida não tem finalidade. As proposições são infinitas. Como as vidas e a zona rural. Árvore, árvore, árvore. As pessoas correm demais porque são curiosas para chegar na finalidade da vida. A vida não existe, só a corrida das pessoas. Em primeiro lugar o asfalto. Em segundo lugar a indeterminação. A palavra grava foice em pedra. Grava pedra em foice. A palavra corre no asfalto com as pessoas que estão loucas de tanto asfalto indeterminado. As pessoas têm pressa de comer poeira. O futuro poderia estar no fim do asfalto. A poeira turva a visão do passado. A poeira infecciona a ferida, por isso que a ferida ferve. Alguns fantasmas brincam de chegar no tempo-fim e voltar. Eles fazem isso só para rir da cara das pessoas ansiosas. O mundo dá nos nervos. Na verdade o infinito não existe. É tudo uma coisa só que um dia morre. Acho que estraguei a brincadeira.

20090308

pêssego

penso
pausa
pensa
pouso
pousa
pause

Penso em pêssego e me pauso.

Alguns acontecimentos são difíceis. Eu não queria, mas penso sem pausa em coisa quente, viva e ainda mínima. Até meu choro foi quente mesmo embaixo de chuva. O som tão alto de chuva e de rato alimentou a noite tão cheia de fome. A noite está doce e foi engolida com pouco fôlego. A noite não desceu pela garganta ainda. Eu só queria uma ajuda tua para conseguir fazê-la passar por mim. Eu só te queria aqui para eu me sentar do teu lado e te contar uma história que aconteceu comigo. Eu acabei com todo o açúcar da casa. Eu vou vomitar formigas corriqueiras. E a chuva não pára de alimentar minha cabeça ainda amarga. Comi todos os tomates. Fiquei ácida por dentro e amarga por cima. Tenho que dar um jeito de derreter essas coisas de dentro de mim. E quanto às de fora, preciso dar um jeito de te ter por perto e me contrariar nessas vontades loucas de não ver mais ninguém. 

20090304

afeto é enfeite é confete é mel é fato é créu

afeto é inocente é luz é calor é umidade é mofo é calamidade é insanidade é morte é sorte é vento é chocolate é mascote é sorvete é suspiro é fugir até que a vontade volte

afeto me engole me cospe me abraça me chuta me tenta me assa me chama de puta

afeto é vaidade e vai tarde

afeto borbulha bisbilhota borboleta barbatana cambalhota

afeto é saudade é sede é sumir é subir é comer é correr é colher é engolir é cair é falir é sorrir é cansar é esquecer

afeto afeta o efeito da foda

afeto fura fala e fofoca

afeto feio é fato fundido

afeto um figo e fabrico fluido

afeto é fita de alfaiate festeiro

afeto e farinha flutuam com afinco

afeto e folia dá em feto faceiro

afeto lá no fundo é fofura é florido é ferida fingida

AFETAR-SE É FICÇÃO

20090302

Dentro da tevê moravam as pessoas.

É fundir o giz-de-cera 
para pintar desenhos de presente
ou falar na frente do ventilador 
para o som se propagar diferente.

É aprender a fazer brigadeiro 
como primeira comida e achar mágica 
o que o fogo faz com uma mistura de coisas 
ou queima de forma trágica.

É girar o balde cheio d'água 
para brincar de não ver chão molhado
ou fazer bola de sabão e molhar o chão 
que acabou de ser secado.

É gostar de girar o bambolê 
sem deixar cair e sem saber por quê
e depois pular corda até cansar 
e só parar para pensar como é feita a tevê.

20090228

um dia eu já fui bonita

A minha bochecha está verde e dura
transbordando pus e beleza pura.
Não vejo a hora de comer algo crocante
e conhecer algum novo elefante
que não me fura numa loucura!

gente chata é pior que barata

Tenho um grande sono da vida inteira
e o único remédio seria fugir bem ligeira
prum canto qualquer sem toda essa gente chata
que é pior que quando dentro de casa tem barata
correndo que nem louca grudada na poeira.

20090215

tégia extra

Espaço alagado por falta de estratégia: extra-tégia.

Tégia: planeta em que vivem coisas e plantas que respiram de modo tégio.

Entégia: variação ortográfica da expressão "intégia", ou seja, estar sob o efeito tégio, "integiar-se" ou "entegiar-se". Maneira orgânica de dizer que algo respira tegiamente sob os próprios pensamentos, geralmente algo com um tom entretégio. Falcatrua verdadeira ou falsa, dependendo da falca, sendo a falca verdadeira/verdadeira ou sendo a falca falsa-verdadeira/falsa: falca-true. Comida a qual não se deve tocar para comer e/ou engolir.

FITA

fita a coisa tua
na rua
semi-nua
e crua::

Por fora do mundo não tem nome.

Não só as coisas se misturam,
mas também as pessoas
(e as comidas e os bichos).
E os lixos.
E as lixas.
E as bichas.

querer e não querer (assim como dezembros)

Quando eu for tomar jeito vou lembrar de tomar em vidro pra que possa quebrar caso eu me enjoe. Acho que isso é um problema só meu: quebro e fico sem jeito nenhum: bem feito, menina, se é pra fazer, faz bem feito mesmo.

Atrás do joelho não se pica.

Eu dormi na minha vida sem mim. Não passei nem da parte que eu já tinha vivido um pouco. (Sem mim.) E foi realmente sem mim. Foi em ti. Passei de mim pra ti a minha vida da vez. E no fim tentei terminar: sem mim, sem ti e sem vida alguma. Eu tenho sono (só nó) quando não precisaria dormir. Mas quando estou na minha vida eu não durmo. Passo a pensar em flamingos e doces. Ou flamingos doces. Ou rosas. Flamingos rosas.

Eu fechei os olhos e abracei a almofada comprida: a Marina. Não consegui mais dormir por culpa das palavras e das formas e cores.

Acho que hoje comi demais e quando isso acontece meus pensamentos costumam clarear, clarear, mas clarear tanto que me deixam um tanto cega pra enxergar tamanha importância de estar dormindo há duas horas. Alguém deve dormir por mim, talvez o gafanhoto que eu esperava encontrar e não encontrei.

Eu digo tchau e você diz olá: "Olá".

Estar distraída faz aumentar meu metabolismo de idéias. Ando estufada de idéias e preciso de um computador mais rápido pra capturá-las de mim e me deixar mais vazia.

O que era aquela formiga tentando carregar o lacre da latinha? Além de só andar em círculos... Eu no lugar dela levaria o bolo de chocolate. Nem que fosse pra fazer de pufe.

Adeus nada! Eu quero você em breve! Basta eu descobrir quem você é.

gente perfeita tem de sobra no mundo.

eu quero uma imperfeição orgânica. oi?
(é daquelas que se desdobram em outras, dançam beatles no banho e têm manias embaraçosas)

20090211

nem me grilo

patino tranqüila sobre as minhas lágrimas
de croco de cocro de coccodrilo!

enxaqueca nostálgica

como nos velhos tempos
em que era tudo confuso
e turvo dentro dos ventos
hoje quem venta sou eu
(ou invento)

distraída

ando meio desatenta
com as coisas chatas da vida...
nem adianta, nem me obriga.
se falta coisa bonita,
a minha cabeça inventa!

(estas frases precisam de mais pontos de fuga.)

ando infurnada dentro da minha cabeça.
perdi minhas asas no meio da bagunça.
hoje ganhei mais uma ruga e quero dormir,
mas meu pensamento só me aluga!

tô pra escrever coisas duras:

bateu a preguiça de entender essas palavras orgânicas!

nem me meto num soneto

ainda é cedo
e tenho medo

ai, céus!

lua cheia

entre o céu e o arranha-céu

(pareço até deserta e pouco esperta)

AVERSA À AFETOS
EFEITOS INVERSOS
ENFEITO OS VERSOS
E VIVO INCERTA!

20090206

1111

Nas minhas primeiras férias solteira
achei que fosse ficar comendo poeira,
mas nunca tive tanta coisa legal pra fazer
e tanta gente e lugar bonito pra conhecer.
Adorei me distrair com cada formiga corriqueira.

É melhor ser jardineira do próprio jardim
pra garantir um jardim lindo e sem fim.
Mesmo com minhocas gigantes e borboletas-morcego
não existe coisa mais gostosa do que viver sem medo
de perder o segundo corpo e o quarto rim.

20090203

Por que me prometem tanto doce em fevereiro?

Quando as palavras ficam à beira do tão óbvio me dá aquele medinho. Desde a hora que comecei a pensar nos anos que fui tão trouxa, com um aqui e outro ali dizendo qualquer coisa bonitinha, percebi que cada um é cada um e é fundamental e macia cada mentira praquele processo todo de estar e de gostar de um ou de outro sono.

Quando vou ter de novo o fevereiro que foi e voltou nas entrelinhas? Ou a semana mágica ou a barra de chocolate ou o dia lindo da segunda viagem? Guardo todos os prazeres invisíveis nesse pequeno bolso que já foram tão vividos e revividos nessa colorida cabecinha. Acho que viver demais em pensamento esgota o tal do momento que não volta: não vem do lugar de que nunca esteve para agora dormir comigo.

20090202

bêjo, té
beijo-te

20090201

Última semana para pensar na vida da bezerra.

Daqui pros próximos dias, só loucamente apaixonada. Como iria aceitar qualquer coisa se louca eu não estivesse? Se a vida está tranqüila até com tpm, bichos dentro de casa (que me deixam um tanto louca e deve ser por isso que os aceito aqui -por- dentro) e borboleta gigante voando no quintal se passando por morcego diurno... Enquanto eu quebro o copo, a lâmpada e até o lustre sem querer porque fico pensando na vida da bezerra, as pessoas e as coisas se transformam e mudam, inclusive eu e a bezerra. Daqui a pouco enlouqueço com todo esse cheiro de solvente. Ou me dissolvo na minha própria vida ou na vida da bezerra.

20090128

susto

1me dão um nó essas coisas de si, de dó
de fá ou de sol nem pra passar em bemol
dormi sem saber, porque de música nem entendo
eu entendo é de sono, de fala e de esmaecer
(acordei repetidas vezes e percebi que ainda estava entre um sonho e outro)
esmaeci sustenido

2ficaste suspensa nos meus pensamentos
escutei a palavra inteira e me deu um branco
experimentei pensar um pouco sobre as coisas e logo me arrependi
porque o que está entre as palavras e as coisas é o que faz sentido
e é com essa única peça que está entre a gente
(e entre as palavras e as coisas)
que devemos ficar confortáveis e sinceras
(seja em silêncios, gentilezas ou fogo brando)

20090125

O soluço é o início da solução.

Só falta descobrir como fazer pra parar de soluçar.
O próximo problema espera ansioso por seu soluço.
Soluço somado acaba em zunido quase-constante e somado ainda mais em zunido constante.
Eu soluço pra dentro.
Eu não ouso somar soluços pra fora.
Existe uma salada de soluços: soluços macios que fazem massagem por dentro da boca, soluços ásperos, soluços ansiosos-quase-vomitados, soluços fáceis de engolir de tão mínimos, soluços graves por pensar demais e soluços tremidos de timidez.
O soluço que eu mais gosto está entre o soluço macio que faz massagem por dentro da boca e o soluço tremido de timidez.
O soluço já começa no início do problema.
O problema e a solução vivem em paralelo.

Em dia nublado ou com pouco sol:

1 Subir no monte de areia mais alto
2 Pisar só com as pontas dos pés bem lentamente na areia mais dura
3 Dar um passo ansioso na areia macia com a ponta do primeiro pé
4 Sempre com a ponta dos pés caminhar na areia macia plana
5 Descer o maior morro de areia macia
6 Tentar fazer com que o próximo passo chegue mais fundo na areia do que o último
7 Pensar no que poderia esbarrar nas pontas dos seus pés lá no fundo
8 Fazer da caminhada de descida do morro de areia o momento mais comprido do dia
9 Repetir quantas vezes desejar

À noite:

10 Achar um laguinho no meio da areia
11 Acocorar-se na areia
12 Pegar um punhado de areia com uma mão só e jogar com força no laguinho
13 Ouvir o som atentamente
14 Pegar quatro vezes menos areia com uma mão e jogar levemente no laguinho
15 Distrair-se com o som
16 Pegar um pouco menos de areia que o passo 12 e um pouco mais que o passo 14 em cada mão, sendo que com a junção dos dois poucos se tenha mais areia que o passo 12 e obviamente mais areia que o passo 14, e jogar os dois poucos no laguinho ao mesmo tempo
17 Observar a conversa dos poucos
18 Ficar em silêncio por alguns instantes até chover
19 Ouvir a chuva ao cair no laguinho e olhar a imagem distorcida que o laguinho fez de você

20090124

FAST (nem festa nem feist)

re pele
pele nova?
pele de novo?
repele

(afasta)

/modelos atuais
/block ou /silencia

(as peles ressecam)
(afoga /em neblina)

Oi, tudo bem? Eu não quero saber como você se chama, obrigada. Até mais.

Cada vez que eu vejo as pessoas pelo meu monitor tenho tanta vontade de estar distante de todas. Mas distante de todas mesmo: das queridas, das médio-queridas, das neutras e das quase-desconhecidas. Na verdade, as que menos me preocupam são as quase-desconhecidas. Porque delas eu não tenho nada: não tenho memórias e não tenho apegos (eu só tenho medo). Do resto todo, principalmente as mais queridas, eu queria estar apagada.

Eu quero desligar a minha memória.


As pessoas que hoje me fazem feliz eu quero apagar logo (não se apega! apaga!). É bem porque elas serão só parte da minha memória em breve. E esse 'breve' sempre repetido, somado e sobreposto.

O esquecimento tarda demais.

Eu não aguento mais ter que esquecer. Eu não aguento mais trocar de sentimento como se fosse de pele ou de máscara. Eu não aguento mais essas pessoas que sentem. Eu não quero mais ser humana. Eu quero achar o botão de amnésia. Ou virar uma boneca de pano ou um macaco de pelúcia.

Umas idéias me bicam!

(Eu preciso dar um jeito: não querer conhecer as pessoas, parar de agir como humana: louca como qualquer humano louco por humanos ainda mais loucos. Ser sozinha poupa e rende até um suco de fruta refrescante para o verão. E de companhia bastam os pés dos sapos e os pés dos coiotes.)

20090122

saudade de ter saudade

eu sempre tenho tanta saudade de tudo que às vezes esqueço que se eu não viver agora de que(m) depois vou ter saudade?

20090117

riscada

Corre o risco,
corre do risco,
risca e arrisca.

As coisas não mudam,

passam horas, passam anos
e está tudo do mesmo jeito
tentando mudar e não mudando,
tentando esconder coisa alguma de coisa nenhuma.
Eu vou sentindo que tudo não passa,
que tudo é presente sempre
e que tudo fica guardado:
por menor que seja o amor
e por menor que seja a dor.
Qualquer coisa serve pra lembrar:
toda coisa serve pra nada
e não muda, nunca.

Amor de pato não é pra qualquer um.

Amor é doença.
Patologia nonsense.
Amor de pato, então:
duplamente doentil!

Se quer ser inimigo meu, seja!

Mas eu não serei inimiga de pessoa alguma
porque de estragado já me basta o ser humano:
por todos os lados, por todas as curvas.

(porque sufoca)

Quem é envolvido demais é doente por essência: o coração maior que a cabeça ou a cabeça maior que o coração ou um envolvendo o outro nessa relação doentia e humana. Sacrificar liberdade é doença: uma coisa que é amada ninguém entende como acontece. E o problema está substancialmente no como acontece: relação saudável e doentia: às vezes em paralelo, outras vezes em sobreposição e algumas vezes individuais. Só é saudável quem não vive.

20090113

(L)

Eu gosto de ter por vezes a tristeza,
até parece coisa de nobreza...
só é triste quem já foi muito feliz
ou já ganhou um buquê de flor de liz
e comeu de sobremesa.

...

É muita prepotência
achar que se apaixonar é uma ciência
em que corpos só dividem corpos
com corações mortos
enquanto tudo fica louco e reticência.

ô ow!

Eu sou do tipo foda-se nessa hora
em que vida nenhuma melhora:
me fodo médio e penso qualquer besteira,
antes se me fodesse inteira
e de cabeça aberta fosse embora.

limerick médio

O que vale mais a pena eu não sei,
mas chover em gente já chovida não aprovei
porque não fiquei com o coração saltitante
ou qualquer coisa assim palpitante:
senti ser só mais uma boneca feita em clay.

err

Fazer coisa de jeito errado também é bom:
rir à toa e fazer de chocolate um batom,
desconhecer conhecidos e dançar em outro mundo,
fazer de conta que coração nenhum tem fundo
e viver loucamente comendo bombom.

r.

Eu não gosto de falar sobre o que quero
porque na vida isso não passa de lero-lero.
Quem é muito convicto sobre o que quer
perde a sua liberdade para uma previsão qualquer:
coisa mais chata ter na vida só o que espero!

.d

Dessa pessoa que não é presente
e deixa a minha cabeça incoerente
eu guardo alguns instantes
e alguns toques relevantes
tão bons quanto pão caseiro quente.

20090112

Momentos que são e não são,
que dizem e não dizem,
são nublados de nuvens e não-nuvens
ou de névoas e não-névoas.

20090108

Eco: oca

Mesmo preenchida com música folk nos fones e com falas de pessoas menores e maiores que estavam do outro lado (falas que às vezes se misturavam) e ainda de pensamentos que nunca se calam, o vento me fez ouvir que ele não queria dizer nada, mas que queria, mesmo assim, que eu prendesse minha atenção nos seus ruídos mais mínimos.

Tantas vezes fiquei sem pensar em nada só ouvindo o vento. Algumas vezes pensei em coisas que não são mais nada. Outras vezes pensei em coisas que ainda não se formaram em nada. E umas vezes em coisas que ainda são alguma coisa (são tão poucas!).

Eu senti por algum momento saudade daquilo que ainda nem vivi, como se eu já estivesse vivido tudo e já estivesse ido embora daquela vida também. Será que eu já estou velha e chata o bastante para nem tentar mais nada nesses sonhos? Já imagino como tudo vai ser, é sempre a mesma história girando e se revezando. Será que as pessoas escondem uma história secreta de mim? É(!): uma história com meios e afins diferentes: secretos, repousados, secos e em preto e branco.

Eu estou me sentindo tão oca: sou um eco dentro do meu próprio corpo.

Cubo-mágico, tranferidor, borracha branca e azul, cestinha de frutas, livro de poesia, sapatinho de pois ou flauta? Nada disso aí o vento me soprou. Ele só soprou enigmas e contextos inquietos... E eu que descubra o que fazer com o que ele soprou, oras!

O vidro da janela do carro aberto até a metade começou a me dar uma aflição. Foi que fechei o vidro por completo: me fechei no vidro por completa falta de ar. Tem que faltar um pouquinho de ar, eu acho. Se tenho ar demais começo a ficar cheia e não consigo viver. Incompleta por falta de ar, eu lembro disso também. Nossa, quanta coisa que eu achei que nem lembrava mais. Até dos meus patins eu comecei a lembrar: eu corria tanto querendo chegar em algum lugar (nem que fosse no céu ou no telhado do ginásio de esportes).

Foi que morri de tanto procurar o céu. E foi lá que eu o achei: bem azulzinho em p&b.

20090107

eu não consigo dormir.

poesia é tudo trapo velho que vem rasgado, sujo e cheio de mau-olhado, essa poesia toda da vida, das coisas bonitas e das coisas feias dá ânsia de vômito, olhares em estado de putrefação, que cheiram mal, cheiram pior que poesia de amor, todo fogo é meio louco, toda cabeça guarda um pouco de cachorro empoeirado, assim como cores cruas, cores de carne de bicho morto no meio estrada, até as coisas que cheiram bem, uma mesma aflição de coisa que é escondida, porque sinceridade tá em coisa feia, já viu, já vi.

enxaqueca não esconde o mundo, mostra, mostra que as coisas são sempre assim, que o mundo tá podre, eu sonhei e não é que o mundo é podre mesmo? eu vivo no meio de coisas tão legais, escondidas por cores bonitas ou por anseios de coisas melhores ou por amigos ou por comidas que dispensam qualquer outra coisa boa da vida, ser sozinha às vezes agonia, às vezes descansa os olhos de ter que ver coisa ruim fingindo que é boa.

cortei as unhas bem curtinhas pra parecer que as coisas velhas da vida foram separadas de mim, eu não quero mais pensar no que em qual onde e como, tudo misturado é bom e é ruim ao mesmo tempo, ar ar ar, eu quero dormir da vida um pouco, eu odeio baratas e eu adoro poesia.

raiva varia

tão engraçado como são as coisas: fixam boas comigo sozinha e mudam: fixam boas em dupla e mudam de novo. e sozinha e em dupla e assim sempre. sendo sozinha um modo de estar e não de viver. coisa estranha as coisas mudarem o tempo todo. são todas livres demais, é por isso. as coisas andam p&b: andam boas, mas perigosas: como sempre quando não fixam. mas quando fixam, mudam. o que é ruim de verdade? as coisas estão agora. e agora, aquela velha história: antes vive ou depois. coisa boa e coisa ruim andam juntas: pra poderem mudar, senão as coisas fixam e nada de voar de novo. mas no fim, quer saber, falta coisa nova: jeito novo das coisas mudarem: variar. é, variar um pouco essa coisa de fixar e de mudar. não fixa: quero coisas boas que não fixem. quero variar. que raiva das coisas que não variam. varia, não raiva.

20090105

mar de melzinho (todas as coisas juntas)

eu mal obedeço à mim mesma, vou querer obedecer ao mundo? larga disso, pensamento! que o mundo é pouco pro mel que cobre ele. coberta de mel: frio de doce: adocica país tropical. adocica essa gente que joga baixo e essa gente que o mundo engole sem conseguir fazer passar pela garganta. as coisas são dúbias: coisa chata ter que ficar prestando atenção pra não escorregar num mel estragado.