20130425

cri-cri

(crise criativa)

20130424

completamente incompleta

visto agora minha camisa-de-fraqueza, meu olhar fracassado, minha espada partida ao meio, minha boca-aberta, minhas pernas bambas e sigo. não importa se sou poeta ou o diabo. ou se o diabo é poeta. ou se a pedra. ou se a queda deserta. infarta. capeta. fica esperta. neném tem cara de esfinge. ou de planeta. não importa. quantos pontos de luz te seguem por trás das orelhas? raposas. alertas. caretas mestras. te enganas. e segues. te enganas e te ganhas em sucessivas respostas. gritarias. risadas. solidões tão sós que nem o sol. tanto mendigo a espreita te esperando passar. te curvas. te cai nas mãos uma escuridão. uma montanha. passos soltos e quase mortos. são as vidas que te seguem. já mortas. pedintes. te derrubam e não te levantas. nunca mais ou nunca menos. não importa. prisioneira de ti ou do mendigo ou do diabo ou do poeta. alguém se importa. a esfinge. só a esfinge te completa. mentira. conferes. por favor. eu me curvo cada dia mais pra enxergar o que há de mais alto. o que há de menor na ponta do último ar. sob a primeira cova depois do nascimento da esfinge. céus. terras. submundos. sobre-mundos. só as caretas desmazeladas. amarradas com barbante do mais barato. bem apertadas. até tirarem o suco do teu sufoco. pois conseguiram. te digo ainda. que eles são tu.

20130418

O problema é que ninguém substitui ninguém.

E justamente por isso, vai ficando cada vez mais difícil de arranjar espaço pras próximas pessoas. E quando tu te dá conta, teus sentimentos antigos estão tão apertados que parecem ainda mais pesados, maciços, incríveis, contrastantes com esses sentimentos frouxos que entram aos poucos, ficam por pouco, se doam em partes... Quem vem ficando com o espaço presente, acaba tão leve que voa com um sopro. Mas também volta com um sopro. Até que alguém venha e empurre-o tão pra dentro em tão pouco espaço que não mais sai, que não mais pesa pouco. Mas dizem que o presente é sempre o outro. O outro, não esquece.

depende.

me sustenta. me suspende.
sos.
me sus.

20130410

Amassar palavra pra fazer pão de texto.

Gosto mesmo é de começar texto do zero-a-zero. Pois que aflição que me dá ter que ficar remendando frase, sacrificando palavra pra fazer nascer outra no lugar, quando sou obrigada a escrever texto do zero-a-um, do um-a-um, do zero-a-dois ou qualquer coisa que venha a empacar o pensamento. Tirou do zero-a-zero, pois pode empalhar, vai ficar pros seres cibernéticos-magnéticos-proféticos o resto. Não, mas não assumo mesmo esse risco de ficar amassando página e página como se fosse massa de pão. Aperta, contrai e cadê que chega a hora de ir pro forno? Massa de texto é assim, quando chega o momento de assar, ele passa tão, mas tão rápido, que nem raio de trovão, que a gente nem sente, só arrepio. Quando vê tá lá, amassando mais um zero-a-um, zero-a-dois ou dois-a-dois. Quando vê tá lá, fazendo as palavras praticarem yoga, alongando e distribuindo o texto de tudo que é jeito. Quando vê tá lá o sol, as pessoas, os cachorros, os livros e tudo o mais, passando o tempo no parque, ouvindo uma música alto-astral e pensando em fazer pão quando chegar em casa. Não é assim? Bom mesmo é pão sem remendo, pão que é feito de várias ideias e posto no forno até ficar pronto. Pois se abre o forno, já sabe né. Temos pão batumado. Denso, tão denso que fica difícil de ler, decifrar de onde vieram os pensamentos, de tão consistentes. Mas, sabe, uma massa aerada, uns momentos de respiro, pensamento leve, sem esgotamento, que abre espaço pra mais texto, pra mais trigo, pra mais. É difícil dizer, mas prefiro escrever aquilo que não como.

20130401

Apavorada, devoro ares por nada.

Nesse silêncio social, burburinho de arroz ficando pronto, ânsia de sair correndo antes da hora. Nessas coisas que só por dentro cabem, nem palavra alguma ou sutileza antiga decifra. Pois já é hora de encontrar outras áreas, outros raros pares, azares, tentares, se aproximares de mim. Ágar-ágar, afagar, afogar, fenestrar, fissurar, ronronar, arranhar, enrugar. Roliças e insolentes tentativas. Fisgar, fugaz. É tudo que quero. A minha espera é nesse meio-tempo, culminar os minutos sobre as horas, os segundos sobre os dias, os milésimos de segundo sobre os anos. E assim vai. E assim vamos. E assim recuperamos um a um os elogios. Calamos sílaba por sílaba, passo por passo. Toda a saliva se transforma em mar e nos leva. Aproveitar a saída, a rasteira, as dicas proibidas, inibidas, fingidas, últimas, celestes, pestes, doenças contagiosas. Tosse crônica é a voz de quem perdeu a voz mas não pára de falar, de esbarrar ranhuras, luzes, línguas, lisuras ou asperezas. Gafanhotos, marmotas, bergamotas, espertezas. Vamos discutindo, conservando, pepinos e vampiros. Tanto sempre faz tanto que desfaz. Vômito na ponta da língua, texto azul e frios apertos. Como se fosse algo que dura, mas contudo zero-a-zero. É na guerra que te enterro entre as guelras que não mais respiram. Lobos guarás e raposas laranjas vislumbradas com as hienas gritando aos gargalhos, te chamam de gárgula. Te reprovam por excesso.