20070828

Certamente,

a mãe-gorda escondia por trás de suas vivências um punhado de alívio. A chuva ainda caía, como as lembranças de um tempo bom, em gotas grandes e gordas. Aquele cheiro, tanto o da chuva quanto o da sopa que a mãe-gorda preparava, trazia a todo instantezinho uma alegria de máximo grau, estonteante, e fazia a dona-mãe chorar, de alegria, de agonia de tanta alegria. Calmamente, a mãe olhou para trás e ao invés de medo, lixos, mágoas ou porções de sujeira (as quais foram imensas, e foram), percebeu, sem intensidades demasiadas, uma vida boa (assim: simples e boa). Foi quando a chuva começou a assustá-la ao bater violentamente nos vidros da janela, chuva pesada, que lavava tudo novamente. Não poucas vezes, a mãe-gorda via a mesma chuva, lavar a mesma vida outra vez; e, nunca demais, toda tristeza de qualquer alegria que tenha, sim, sido demais, sumia... E aí, sem dúvida, calava-se num silêncio a não pensar mais sobre a vida, e passar esse tempo inteiramente a ouvir a chuva, chorar e sentir o cheiro de sua sopa, que já estava quase pronta, verde de brócolis e de tanta vida.

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