20120507

Penso em cobertas azuis ou vermelhas

quando estão bem amarrotadas e cheias de sono. Viviam me dizendo para arrumar a cama: espantar meu sono de lá: enxotar os franzidos da noite. Eu nunca gostei muito desse método para acordar, gosto de saber que meu sono está guardado por dentro das dobras da coberta (pode ser a azul ou a vermelha). Parte do meu sono vem comigo para o banho: lá se vai sono ralo abaixo (ralo é rico em sono)(barata se alimenta de sono para não precisar dormir)(sono e cabelo se atraem). Mas a coberta, oras, não precisa disso, não precisa do dia dentro dela, ela é amaciada de sono, sonho e aquela dispersão de gente deitada. Por dentro das dobras da coberta tem uma sensação de livro de página amarelada, aconchegante e dormida. Cada franzido tem engolido um pensamento (ou dois, isso depende do espaço que cada pensamento ocupa no franzido e do espaço que o franzido tem para cada pensamento). Franzidos não estão só na coberta, mas também nas testas (com sono ou sem sono, com pensamento ou sem pensamento). Tem testa que franze tanto e é tão vazia, tem testa que franze pouco e transborda e tem testa que é certa, é focada na [vida], pensa e franze num equilíbrio que só na maior disperção das coisas planas que se consegue notar. Tem testa que é como coberta vermelha. Tem testa que é como coberta azul. [Tem testa que é do Tokyo e tem testa que não. Tem coberta que é do Tokyo e tem coberta que não.]

[2009]

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