20070609

Dois mil e seis 2

Esvaziar a cabeça de ar. Tirar o rei da barriga e depois fechar o umbigo. Aperta o ponto entre o dedão e o dedo indicador da mão direita. Aperta mais forte até cansar a mão esquerda. Começa a enjoar de novo. Parece que o rei da sua barriga decide incomodá-la por mais um momento. Percebe um buraco dentro do estômago, negro. Não há fim. Precisa de mais ar na cabeça. Arrepende-se de ter tirado o seu excesso. Tenta recupera-lo. Desta vez pelo umbigo já fechado. Antes, o olho chorava ar. O problema será o ar subir-lhe à cabeça. Levará quantidades de alimento. Através dos olhos, vômito. Restos digeridos de cenoura, batata e macarrão ao molho de tomates frescos (já não mais frescos). Mais um almoço a menos. Os vômitos ausentes sumiram no buraco negro. Não precisa mais esvaziar o corpo. As coisas - todas - somem dentro de si. Sem sombra de dúvida (e isso significa que, ou a dúvida não tem sombra, ou não a trouxe consigo, ou, se tem, não está por perto), está vazia.

(Uma pessoa vazia vale mais que duas cheias de vômitos mal resolvidos.)

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