20130410

Amassar palavra pra fazer pão de texto.

Gosto mesmo é de começar texto do zero-a-zero. Pois que aflição que me dá ter que ficar remendando frase, sacrificando palavra pra fazer nascer outra no lugar, quando sou obrigada a escrever texto do zero-a-um, do um-a-um, do zero-a-dois ou qualquer coisa que venha a empacar o pensamento. Tirou do zero-a-zero, pois pode empalhar, vai ficar pros seres cibernéticos-magnéticos-proféticos o resto. Não, mas não assumo mesmo esse risco de ficar amassando página e página como se fosse massa de pão. Aperta, contrai e cadê que chega a hora de ir pro forno? Massa de texto é assim, quando chega o momento de assar, ele passa tão, mas tão rápido, que nem raio de trovão, que a gente nem sente, só arrepio. Quando vê tá lá, amassando mais um zero-a-um, zero-a-dois ou dois-a-dois. Quando vê tá lá, fazendo as palavras praticarem yoga, alongando e distribuindo o texto de tudo que é jeito. Quando vê tá lá o sol, as pessoas, os cachorros, os livros e tudo o mais, passando o tempo no parque, ouvindo uma música alto-astral e pensando em fazer pão quando chegar em casa. Não é assim? Bom mesmo é pão sem remendo, pão que é feito de várias ideias e posto no forno até ficar pronto. Pois se abre o forno, já sabe né. Temos pão batumado. Denso, tão denso que fica difícil de ler, decifrar de onde vieram os pensamentos, de tão consistentes. Mas, sabe, uma massa aerada, uns momentos de respiro, pensamento leve, sem esgotamento, que abre espaço pra mais texto, pra mais trigo, pra mais. É difícil dizer, mas prefiro escrever aquilo que não como.

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