20130524

Por esquecer:

Você se contorce, se torna insuportável, quando não por suas palavras, por suas observações quietas e suspeitas, que vivem te julgando, por todas as pessoas que você alimenta dentro de si mesma. Te estapeiam, te fazem convergir pra esse bife de alma reclamão e mascarado, que esquece de viver pra mastigar a si mesmo, suas memórias, suas sensações de hoje do que foi, sua ficção interna, passada como um filme por dentro da sala-de-estar do estômago. Várias vísceras acomodadas, esperando o suco de laranja do meio da tarde, a pizza do começo da noite, a saliva engolida em seco do fim da madrugada, sendo ela que te tem nas mãos... As mãos da madrugada são aquelas que te acolhem, te fazem menos carente de ti mesma, mais carente do mundo, enxergando por entre o sono a linguagem dos outros que te habitam por todos esses meses, e te fazem esquecer, nos dias que seguem escorrendo, o quanto você se limita no tempo, o quanto vive de lembrar, esquece de esquecer e morre de viver. Mas nem tudo se encontrou, nem tudo se resumiu, nem tudo foi vivido, pois algo se perdeu, graças, e ali que você está quase por chegar, só mais uns meses e está pra nascer, esse outro lugar, esses outros convidados a te terem nas mãos. Por entre a madrugada, num terreno baldio.

Nenhum comentário: