20121107

entre a dúvida presente e o desastre por vir

pulsar naquela frequência que só os dias muito quentes conseguem envolver: afagar o desastre latente, o olhar desmaiante da cidade iluminada em excesso; daquele pensamento que está sempre ali, na dúvida de tentar ser um não-desastre de repente, um derrapante passo à frente, um pisar-em-falso no fora do último instante do respiro; chegar no suspiro num descuido com os próprios movimentos, num lampejo enganado, numa farfalha amorosa, num ritmo pausado, numa súbita incerteza seguida de uma dobra certeira, de uma experiência ativa, de uma série tímida; daquelas vezes que a tendência foi segura, foi dúvida esquecida, tão dissolvida entre as palavras que o assunto se nublou, se rendeu ao afofamento, se camuflou no tempo, se escondeu em meio ao que nunca existiu, mas que mesmo assim a gente foi vivendo; e vivendo a gente foi desvendo sem desvendar o que intuía, o que sentia forte sem saber porquê, o que morria em suspense de não saber o ato próprio; naquela vivência molenga, desestruturada, sonhadora, que não revela, que não coopera, que não se deixa embriagar, mas que dá uma canseira, essa roseira sem espinhos nem cheiro.

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