20101210

Joaquim de sexta-feira

Estava andando pela Beira-mar na parte onde não tem mar. Nem sal, nem areia. Apenas carros. E pessoas com cachorros ou bicicletas. E cachorros perdidos. O cachorro perdido era meu. Foi meu. Foi e não foi. É que achei o cachorro perdido e podia simplesmente não devolver. Atendia pelo nome de Joaquim. Era marrom e dócil. Me apeguei tanto ao cachorro que não quis recompensa. Mesmo sabendo que Joaquim podia ajudar a pagar a conta de luz desse mês. Afinal de contas é natal e tive que gastar o dinheiro com meu amigo secreto. Joaquim me olhou como se fosse um gato de botas. Mas Joaquim é um salsicha sem botas. Telefonei para o dono de Joaquim, mesmo sabendo que Joaquim não gostava do fato de ter um dono. Por isso perguntei ao telefone pelo seu "amigo". Não foi à toa que, enquanto eu conversava com o amigo, Joaquim me mostrava um meio-sorriso. Combinei um encontro com o amigo em seguida. Mas foi difícil pra mim. Podia ficar com Joaquim pro resto da vida. Marrom, gentil e salsicha sem botas. O amigo de Joaquim ficou muito feliz, chegou a insistir na recompensa. E eu sou lá de querer recompensa por encontrar um amigo perdido numa Beira-mar cheia de carros? O amigo de Joaquim me convidou pra outro café depois de ver o quanto Joaquim simpatizou comigo. Não pude negar, ele era bonito e gentil como o cachorro. Só que não era salsicha. Mas também não usava botas e era quase marrom.

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