20080805

eu derreteria

se eu tivesse as mãos d'água e delas eu dependesse para andar pois não teria pés nem pernas, eu, sim, derreteria. derreteria ainda mais provavelmente se minha boca fosse d'água, pois sou feita de falas engolidas e delas eu dependo mais do que de meus pés e pernas

mas caso minhas mãos e minha boca fossem d'água congelada e minha casa fosse freezer, eu seria como um hambúrguer frio de soja, mas feito de carne, bem temperado e com muitas esperanças de morrer de velho no congelador, que cuida dele com tanto amor quanto eu cuido da minha caixa de pérolas

algumas coisas têm sonhos nublados no passado
alguns sonhos são de coisas nubladas sem passado
alguns passados foram só de sonhos e coisas nubladas
alguns sonhos são encantados como passados não-nublados
outros encantos nascem de coisas que ainda não nasceram no passado

quando eu morrer eu quero virar água. eu quero um amigo quase-imaginário que invente um jogo com a água do meu corpo e com ela encante meu passado nublado e não-nublado, meu passado que foi e meu passado que ainda não passou pela minha água

Um comentário:

Elisa Smania disse...

que bonito