20101022

só de preguiça, só de desmaio, só de malícia. sereno de só, sulfúrico. saltitante ou suspenso. senso súbito de mudez: pálida e polida. pungente palavra é pingente de larva. pilha sem carga, parda sarda. de nudez: morder alguém que tarda. ou alguém que guarda. volver

papo de ovo passado

Antes da salada tinha um ovo de avestruz. Ou era de codorna? Ele estava picado, por isso não servia a especificidade do diâmetro. Podiam ser vários de codorna ou metade de avestruz. Podia ser de galinha também, mas acho que o momento pedia algo um pouco distinto. Tadinha da galinha, tão cotidiana... Depois vinha a salada. Tinha de tudo um pouco. Não de tudo-tudo, mas uma boa parte de tudo. Tinha também um pouco da parte ruim na verdade. Sempre tem, né? Se bem que hoje eu entendo que até as partes ruins merecem um pouco de felicidade e respeito, coitadas. Aí elas viram um pouco de confusão e até deixam de ser ruins. Apesar de que, nesse caso, estaríamos excluindo elas novamente, coitadas. Coitadas! Eu queria dormir um pouco dessa clareza toda de pensar em ovo branco e meio borrachento. Quase que um gel exageradamente denso. Gel talvez seja coisa do passado. Ou do enrugado, que de passado-passado nem passado liso inventado. Passado liso é impossível. Vai ver por isso continuamos chamando-o de passado, pra existir uma transgressão furorística de vida. Ou de morte, em alguns casos.

Não vou conseguir deixar de registrar isso tudo.

De repente, acordei. Ou entrei no próximo sono, que seja. Conversa vai conversa vem, conversa vai-e-vem pois do contrário não haveria conversa. Me expliquei dentro de mim pra mim, noutra conversa vai-e-vem, mas não me entendi direito, pois falava meio baixo e com palavras trêmulas. Como se não bastasse, disparou um alarme na rua. De algo da rua. Algo enlouquecido por atenção. Quem inventou isso devia levar uns tapas. Ou umas palavras meio baixas e trêmulas. Daquelas bem gordinhas de tão baixas. Trêmulas perigando desmaio. Perigando por quê?

Vivo de me distrair com essas conversas.

Como eu ia dizendo, entrei em acordo ou tomei um sonífero. Talvez mais de um pelo hábito quase que hipocondríaco de sempre tomar mais de um. Um nunca me satisfaz. Um não conversa, se explica. Se explica e se contra-explica. EX PLI CA. Gostei dessa palavra. Ela é meio punhado de areia em ângulo em laguinho das dunas. Sabe aqueles laguinhos que se formam no meio das dunas?

Vou tentar outra vez contar isso tudo. Começa com o alarme disparando. Quer dizer, isso é uma grande mentira, pois o alarme dispara só alguns anos depois. Na tal conversa vai-e-vem de explicação, lembra?

Certo, tudo começa quando... esqueci que as coisas meio que não começam, melhor mudar esse termo. Tudo... tudo também não me parece bom o bastante. Nada é tudo. A gente sempre esquece alguma coisa.

Esse papo que deu manga pra pano, meio como pedra engolida em papel, tem alguns anos de desmaio. E acredita que isso ainda continua? Depois de al-guns a-nos? Eu quase não acreditei de tão tola, mas vamos lá, mais uma vez com a manga no pano.

Dessa vez estou distraída o bastante, confesso mesmo. Não foi a coisa mais natural do mundo, até porque o mundo não anda merecendo coisa muito natural. Desde quando, nos dias de hoje, o mundo é natural? E as pessoas tão aí, no meio disso tudo. E também no começo. Acho que é por isso a manga não entra em secura profunda, deve estar cheia de conservantes e acidulantes (não que eu saiba o que exatamente seja este último).

É que quando a manga era verde... oras, que metáfora idiota, quando ela ERA contava com outro tipo de pano, se é que me faço clara. Tá bom, isso de ser clara não costuma acontecer porque eu fico com os dois pés atrás (é que tenho seis pés) quando falo das coisas da minha vida. Mentira, eu não tenho seis pés, portanto vivo de estar atrás por inteira mesmo...

O fato é que eu me entregava há alguns anos. Hoje simplesmente não dá. É uma droga. Ou duas ou mais (por causa do hábito quase que hipocondríaco). Na verdade é bom que isso fique ambíguo, pois não tenho convicção se a droga era antes ou depois.

20101019

poema nomes

melissa, julieta, violeta
frida, amelie e flora
penélope, isadora
rebeca e maria antonieta

pablo, joão, valentin
martin, mathias, enzo
alícia e joaquim

emília

(maria flor)

20101018

essa dor-de-cabeiça
que não me deixa
nem amei-xa

Quanto de sono cabe numa cabeça que não tem mais espaço livre?

– Tem que empurrar o resto pra fora pra conseguir dormir.
– O problema é que tento empurrar e acabo empurrada da minha própria cabeça.
– Então fazer morrer, adormecer as coisas pra conseguir dormir junto com elas.
– É que alguns pensamentos se multiplicam enquanto vão sendo pensados. Sabe, se alimentam da própria ação que os fazem ser o que são. É como se cada vez que eu me provasse ser gente, eu me desdobrasse em duas, três, sete, dezenove... e fosse preenchendo o espaço livre do mundo.
– Isso parece ser um problema inventado, mas continue.
– Bocejei! E o bocejo se desdobra do mesmo jeito que o pensamento, quanto mais se afirma existir, mais existe em quantidade.
– Isso não parece ser inventado, não continue.

20101005

adoro:

comer danoninho de colher amarela ouvir música latina em dia de chuva almoçar aos domingos compartilhar pensamentos pequenos aleatórios escrever até a letra se tornar um rabisco rabiscar até surgir alguma palavra sentar em posição de lótus esticar os braços pra trás ao mesmo tempo em que alongo o pescoço sorrir de modo engraçado coçar o olho acordar com o cabelo bagunçado lembrar que um dia tive cabelo cor-de-rosa lavar o rosto muitas vezes ao dia descobrir palavras que rimem com agulha ou migalha ver o pudim ficar espesso esticar-me permanecer quieta por um longo tempo

20101002

– lááá no fundo eu até gosto das pessoas
– eu tbm, mas só qdo elas tão enterradas bem no fundo mesmo